sábado, 26 de maio de 2012

Oh "catastrófe"

Sr fulano de tal...

   O calor aperta e a viagem inicia-se sem grandes perdas de tempo. Voltei a deixar voar o meu corpo numa deriva controlada a metro e meio do asfalto. Sinto-lhe o calor e a cor negra que o absorve. As vezes que subi a A25 ou as que passei o arame farpado das nossas fronteiras aínda não bastaram para que não saia sempre triste e em tons de despedida de um sol, de um país, de amigos e familia...é como tentar meter a vida numa mala e arrancar por dias consecutivos e ter a noção que ficam para trás. Assim que se passa a fronteira, seja ela qual fôr, o dia deixa de ser mais um dia e passa a ser um dia a menos para o regresso. É esta a única bagagem imaterial que trazemos e onde transportamos as pessoas e coisas que sabemos fazer-nos falta, sejam as circuntâncias que forem.

   O dia começa a pousar...olho pelo espelho retrovisor e vejo o sol poente como que suspenso sobre a linha do horizonte, o céu incendeia-se e daí a pouco as luzes acendem...perde-se o sinal rádio da Antena 1, a rede de telemóvel já é sujeita a roaming e dá-se o "clique"...Fica Camões e entra Cervantes. Sintonizo a Rádio Nacional Espanhola e tento abstraír-me do sossego que já impera aí no meu interior. Será assim até Frankfurt, destino desta viagem que ainda realizo...com a tal bagagem imaterial que carrego em mim, mais enriquecida pela dupla alegria de encontrar duas pessoas que me leiem e que me reconheceram mal meti a cara de fora da camioneta depois de uma noite bem dormida por aqui, por ler o blog, e por ter reencontrado dois amigos que fiz ( os mesmos, familia Antunes) na última area de serviço da Alemanha quando já regressava a Portugal. Um grande e feliz momento, diluído num café tranquilamente tomado e devidamente documentado por fotos. Abro o porta-moedas com um gosto especial, abro a bagagem e arranjo um cantinho onde meter mais dois amigos que de forma curiosa conheci.

   O dia fechou-se assim na fronteira de Aachen numa sessão fotográfica hilariante talvez aos olhos de quem nos visse programar a máquina fotográfica, clicar, pousar e ir a correr para o cenário e chegar á 5ª tentativa e nada...nada de jeito. Mas de todas as fotografias que se tiraram para perpetuar o momento, sobraram algumas que servem de esboço ao desenho do quão bom foi encontrar pessoas que estão de bem com a vida. Verbo sorrir em riste.

   A manhã nasceu cedo...a luz da aurora invadiu-me a cama ás 5 da manhã. Arrumei a cama, abri cortinas e mostrei de novo a cabine ao mundo. Um duche, um café e munido de vinheta para circular no Benelux. Volto a ver o sol em crescendo pelo retrovisor enquanto desapareço de Aachen Bélgica dentro. O dia inspira. Paragem para abastecer no Luxemburgo e tempo para um café com um amigo de longa data, meu conterrâneo.
    Mais uma pausa feliz. Anoiteci em Montargis, França, esticando ao máximo o horário para conseguir sair de França antes das 22 horas de hoje.

    - É hora de acordar, são três horas e quinze minutos- diz-me uma voz feminina programada no despertador do telemóvel. Primeiro round: Eu 1 - Despertador 0. Quando me levantar procuro-o debaixo de um dos pedais... Desperta o outro telemóvel...é mais irritante e como não lhe chego deitado, ergo-me e pronto...empate e eu rendo-me á vertical. Avanço de madrugada para evitar os turistas  franceses que gostam de invadir a estrada rumo a uma area de serviço fazer um piquenique...Com o dia chega também a parte mais larga da estrada, duas faixas desde Vierzon até Limoges, aumenta o tráfego e o calor. Umas obras e o cheirinho a verão nas filas que criam. Tempo para observar as pernas despidas que descuidadas se mostram a quem as vê sem quer de cima. Um cheirinho a seca e tempo perdido em filas desorganizadas originadas pelas deslocações das pessoas que viram chegar o dia de ir de férias, merecidas ou não, ei-los que estorvam e que se desorganizam.

- Catastrófe- digo eu em tom Ûcra-Lusitano. Não me vou safar assim. Mas quis a viagem continuar a ser agradável e assim consegui hoje, estar um pouco exposto ao frio nocturno de Alsásua, muito perto já da zona dos Pirinéus. Daqui a poucas horas volto á estrada com destino a Viseu e a parte material da bagagem que deixei, mas quebro aqui desde já a regra de só falar no final da viagem.
   O cromatismo dos dias e das viagens insiste em coisas muitas vezes repetidas mas desta vez foi tão diferente: Fiz dois amigos e voltei a trazer a viola, ainda que em silêncio, ela veio comigo. Vem sempre...ás vezes sem cordas. Fiz dois amigos.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O lado de lá da outra vida



   Srs Fulano, Sicrano e Beltrano de Tal...

   Por uns tempos deixei de escrever, pelo menos aqui neste blog onde vou partilhando a vida que reparto em dose industrial com a Xica. Há outra parte da vida que parece adormecida quando passo a fronteira mas a cada momento desperta e aí lembro-me que há outra vida consagrada na minha e que não é de certeza dedicada á minha profissão. A verdade é que ultimamente as viagens eram iguais, não os destinos mas os pensamentos eram os mesmos, e perdi a vontade de vir durante uns dias. Sentia que o meu pai se esgotava rapidamente e assim que foi internado, decidi que íria saber se seria possível tirar uns dias de férias para poder estar no hospital todos os dias, de manhã e de tarde, junto dele. Fui o último de quem se despediu...libertou-se a 25 de Abril. Doze dias num hospital que pareceram anos. Não porque desejava quie o tempo passasse rápido, não, não é isso, pareceram anos no conteúdo das conversas que pude ter com um homem com o qual eu não vivi mas convivi. Pude dizer-lhe tudo o que sentia, pude estar ali calado á espera que daquele corpo já leve e cansado viessem palavras. Pude sentir a vela na mão...pude ver aquela chama que era forte ir perdendo no amarelo e ganhando mais o tom de pavio queimado, pude sentir a cada dia a temperatura a descer e as forças a despedirem-se. O meu pai partiu...é isso mesmo. Um dia chegou e um dia partiu e tal como todos também eu vou adiando a partida final, mas até lá vou chegando e partindo, vezes sem conta aqui e acolá, mas nunca foi a última vez e é isso que me empurra: contar a que não foi a última partida.
   Durante dias olhei para fora desta janela. A perspectiva da foto era a mesma que a que os olhos do meu pai viam quando já desconfortável pela posição acamada do corpo, tinha na serra que se vê ao fundo a sua referência. Passei ali horas em pé, olhando para a rua e vendo a primavera instalar-se...ficava ali á espera que o meu pai acordasse e me visse. Piscava-lhe o olho e ele voltava a adormecer. O meu pai dizia que os hospitais sao sitios onde as pessoas estão tristes e morrem de noite. O meu pai não dormia de noite com medo de morrer de noite. Aguardava achegada de um dos dois filhos e então adormecia aos poucos...acordava, falava, cansava-se e adormecia. Esta janela de onde espreitava e narrava ao meu pai tudo o que via. Partilho-a aqui connvosco, uma vidraça diferente no lugar de para-brisas, mas uma janela com vistas para a vida e era por isso que o meu pai a queria aberta para que olhassemos todos por ela. Acho que só hoje descobri isso...
   Voltei ás viagens e a dar a minha pele ao sol que já vai queimando. Voltei a deliciar-me na estrada e a sair encantado de alguns cenários que em viagem posso contemplar de um local previlegiado atrás do para-brisas. Não é uma vidraça como a de cima, mas é concerteza também uma janela para a vida que também deixo para trás cada vez que parto e que agarro cada vez que chego. Os dias virão melhores e eu cá estarei para me vestir da cor que o sol tem para dar.

terça-feira, 6 de março de 2012

A neve


Sr fulano de tal...

Passaram os dias e a vontade de escrever por vezes adormece...talvez escreva quando estou mais deprimido ou me sinto mais só numa luta que não deveria ser só minha. Talvez sejam dias em que me procuro de novo numa tentativa de não cair num abismo existencial. Outras vezes é uma mera questão de oportunidade mas o que é certo é que os meus dedos silenciaram durante uns dias e mesmo um artigo menor que escrevo para um pequeno jornal local me foi dificil arrancar dos dedos.
Chegou neve ás estradas que normalmente percorro...já evoluímos sob um nevão e a Xica, lá foi subindo e conseguimos sair da zona critica. No fundo adiava-se a queda de neve e sabíamos que mais tarde ou mais cedo nevaria e o frio atirar-nos-ia para dentro das cabines, remetidos ao aconchego quente da cabine, sozinhos e a adiar a fome para uma hora em que seja menos dificil aguentar o frio enquanto se cozinha.
A neve...gostava de associar meia dúzia de palavrões quando falo da neve no meu âmbito profissional, mas como sou um rapaz decente não vou escrever nenhum palavrão. Mas a neve no itinerário de facto prejudica o normal desenrolar da jornada do dia. Não só a neve em si mas também o frio que lhe é associado. Em grandes nevões o trânsito fica cortado aos pesados, por vezes somos surpreendidos por fortes nevões nos itinerários, o que leva as autoridades a retirarem para parques, muitos deles sem condiçoes para permanências superiores a 24 horas por alguns nem um wc terem. E fica-se ali, um ou dois dias até que os limpa-neves abram a passagem para que se possa circular devagarinho e em filinha pirilau. São as estradas escorregadias, sensiveis a golpes de travão mais firmes que tantos acidentes originam nestas condicões, é a visibilidade afectada como se a visão estivesse a ser queimada por um excesso de luz. Não admirem pois se em dias de neve virem motoristas de óculos de sol. Os motoristas não fecham olhos nem descansam a vista enquanto conduzem na neve, ou seja, não estão a ler ou a olhar espaços que não a neve. Lembro a primeira vez que passei assim um periodo de neve, foi Burgos e os olhos ardiam-me porque Burgos estava totalmente coberto de neve, havia um pouco de sol e a luz deste era espelhada por toda uma superficie plana...tive mesmo de parar para sair do camião e procurar um lugar onde pudesse estar 15 minutos sem que sentisse os olhos a serem queimados.
Por norma o motorista Português não faz refeicões na sua cabine como muitos de outras nacionalidades fazem. Quase todos, senão mesmo todos, camiões Portugueses no serviço de longo-curso têm umas caixas em aluminio no reboque, do lado direito do mesmo e aí nessas malas que preparamos as nossas refeições. Ora, quando está a chover ou quando está neve torna-se complicado cozinhar, mais ainda se a lona do reboque vem selada e não dá para abrir de forma a fazer uma espécie de abrigo. Por vezes se houver no espaço de carga um metro vazio á traseira cozinha-se la atrás, no reboque, ao frio mas abrigados da neve ou da chuva. Pior é quando nem isso é possivel e apenas resta a cabine. Aí a malta opta por uma sante enquanto aguarda mais um pouco na esperança que chegue um colega português com espaço no seu reboque e que por gentileza nos deixe lá cozer umas batatas ou aquecer uma sopa só mesmo para aconchegar o estômago.
Não raras vezes dou comigo perdido em pensamentos a imaginar como seria antes...os mais velhos que andam nas estradas a descer, por exemplo os pirinéus, em camiões que a nivel de segurança, equipamentos de travagem e desacelaração eram bastante inferiores aos de hoje. Podem estar temperaturas gélidas e insuportáveis no exterior mas dentro dos hábitáculos de hoje os sistemas de aquecimento permitem coisas tão fantásticas como parar num parque de uma serra com vistas colossais e ficar ali, sentado no banco do morto a contemplar a neve invadir o ceu e pousar-se em tudo que é superficie...uma t-shirt e uns calções e ouvir um bom cd. E isso basta-me para suportar depois a neve na hora em que me sento ao volante pronto para umas horas de condução.



Eis algo que também queima muito as vistas a muito boa gente, amigos até :)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Xica, Mi24



Sr fulano de tal...


Um dedo apontou para o fundo do parque. Apontei de seguida o meu olhar seguindo o rasto do gesto. Não cheguei a meio, o meu olhar dividia-se entre a Xaleca despida de tudo quanto a identificava á distância. Nesse momento senti que iria ter de a libertar de mim. Não, não podia estar com algum tipo de apêgo por um camião que nú, já não era a minha base portátil, abrigo e palco de tantos sentimentos que se nos atravessam ao longo do dia, frustrações, cenas que só grinaldas sonoras as tornam tão difentes...em suma, havia vivido ali três anos... Não, não podia ser e como não podia ser virei costas. A vida já me ensinou o suficiente para que eu sinta que doravante as despedidas serão mais constantes, menos dolorosas, vamos endurecendo e só o que nos realmente nos marca nos doi ou se manifesta por algum sentimento triste ou de perda. E naquele momento pensei que nesse momento voltasse a olhar para trás, nada nos pertence e o que vale é o que levamos cá dentro. Por isso segui...mas alheio ao sol, alheio ao dia que era.
Segui os passos que me levavam ao fundo do parque. Senti que quem ía comigo agitava os lábios como se estivesse a falar e estaria por certo, mas dentro de mim naquele momento só existia uma paz muito grande, um silêncio avassalador que tudo absorvia e não me lembro do momento de ter começado de novo a minha ligaçao ao exterior, foi lenta, cromática e só me senti parte do mundo quando o mesmo dedo apontou para um camião que parecia estar mesmo ali com aquela expressão: - Olha, este gajo é levezinho...pode ser que seja este que eu tenha de abrigar.
Olhei na esperança de a matricula acabar em 7, mas não...estavam esgotadas e vi-me assim destinado á Mi-24.Nasci a 24 de julho, o meu irmão trata-me carinhosamente por 24 assim como á filha dele, minha linda sobrinha nascida tambem a 24 de Julho, sob o mesmo signo do tio e até o mesmo signo do zodíaco Chinês, ambos do ano do Tigre. Escusado será dizer que a miuda tem parecenças muitas comigo mas sobretudo a forma de estar...sempre a rir e a cantar mesmo que lá dentro possa não ser assim. Menos mau e o destino até tem destas coisas...Mi24.



Subi com calma o estribo, sentei-me e deixei-me estar dois minutos a olhar em volta, o interior do refúgio do meu corpo e do meu pensamento quando quero estar só, quando estou só ou quando simplesmente não estou. Aos pouco lá fui arrumando a cabine á minha maneira, pondo de lado o que supostamente não precisaria trazendo apenas o material e objectos que preciso para trabalhar e para me equilibrar quando a hora é de lazer e eu me encontro fora do país. O cheiro a novo invadia-me, lembrando que a 07 era parte do passado e que agora era a vez de me dedicar á Mi24.
Com o cair da noite fui ultimando tudo para iniciar a marcha na manhã seguinte.
A serenidade transmitida pela Xica na subida até Vilar Formoso fez-me acreditar que a viagem seria de descoberta, de adaptação aos instrumentos mas tranquila...e foi-o. Curiosamente cinco mil quilómetros exactos separaram a nossa saída do parque da nossa chegada. A viagem primeira da Xica levou-a ás baixas temperaturas da Alemanha, ás estradas ladeadas por restos de neve, algum gelo negro e também alguns traçados sinuosos em estradas nacionais Alemás. Logo na sua 1ª viagem, já na fase de regresso, deslizamos tranquilamente na B31 de Geisingen a Freiburg, passando a fantástica floresta negra que antecede Freiburg com uma sensação de segurança mas ao mesmo tempo de raça e confiança. Não encontraria muitas palavras que definissem esse traçado onde os olhos se dividem entre admirar a beleza envolvente do traçado e a perigosidade rodoviária do traçado. Serpenteando a floresta, subindo e descendo sob a noite já calada e instalada, abeiramo-nos do ponto que tem tanto de perigoso como de belo, numa fase em que a estrada, ora de um lado ora de outro acompanha o trajecto de um comboio muito lento, cuja linha serpenteia quase a par com a estrada. A beleza paisagistica permite admirar a marcha elegante dos veiculos, uns a subir e outros em sentido contrário, há uma forte informaçao visual de natureza presente, casas de construção tradicional que nos remetem para paisagens idílicas dignas de postal e sentimo-nos parte daquele quadro. A segurança que senti nas curvas com gelo permitiram uma sensação agradável de se sentir.
A estreia da Xica marca uma semana em que meu pai se debate com graves problemas de saúde, e a fé existe mas já vivi o suficiente que só fé e esperança em certos casos não chegam. Fiquei um pouco confuso e ao mesmo tempo assustado, embora não viva com o meu pai desde os 5 anos, é meu pai e claro, tenho o meu avô, homem que é pai, irmão, amigo também já em fase descendente na vida. Assustam-me as frases que me dizem para me conformar e invade-me a tristeza quando não penso em nada a não ser na realidade crua e dura. Já é na Xica que me escondo de um mundo para viver o meu...que se baseia quasde em escrever , ler ou então estar comigo mesmo de viola na mão a aguardar que o sobressalto me deixe adormecer ou que o cansaço venha e me arraste para a cama sem pensar, sem lembrar e me deixe pelo menos dormir. Cada vez mais me sinto isolado e contudo vou tentando não contar com ninguém...as pessoas chegam e ficam e outras partem, magoam e á distância não podemos agarrar-lhes e pedir que fiquem. Esta Renault ajudar-me-á.
Claro que fisicamente há diferenças entre a Daf e a Renault mas isso a mim e para este efeito não me importa, não vou entrar em comparações entre a Xaleca e a Xica uma vez que é a forma como me sinto ao trabalhar nelas que interessa. No fundo é um camião como qualquer outro só que quando as cortinas se fecham deixa de ser um camião e passa a ser um lugar onde pernoito, penso, escrevo, durmo...um espaço que tem de estar em sintonia comigo mesmo para que a ausência não se note tanto. Faço agora da Xica o que fiz da Xaleca, um espaço meu em qualquer País da Europa, um pequeno espaço ao meu dispôr onde mantenho os significados e referências de forma a sentir-me bem e confortável.
Esta semana voltaremos á Alemanha. Saíremos por Elvas para Badajoz, mostrarei á Xica pela primeira vez a En4 que gosto de fazer pela forte presença visual de tudo o que caracteriza o Alentejo. Passaremos Vendas Novas, Montemor, Arraiolos, Estremoz, Borba...roçaremos Vila Viçosa que traz tão doces recordações pela paz que sempre me rodeou quando a etapa diária terminava por lá. Elvas é o ultimo grande suspiro e Badajkoz estará á vista, mas antes paragem na fronteira do Caia para levar jornais do dia para ler durante a semana. A Xica desfilará elegante e segura rumo ao destino que nos traçarem a cada viagem, vou acreditar nisso, quero acreditar nisso. E já sem história que anteceda o primeiro arranque, já de cofre vazio e sem nada para contar ou lembrar, esperaremos calmamente o primeiro grande momento na Xica...porque há momentos que ficam para a história, uns piores que outros, mas se os fôr escrevendo é porque o fim não foi nem será, esperemos, um desses momentos que realmente nos marcam.
Começemos do zero. Nunca deveria ter sido nunca.

domingo, 22 de janeiro de 2012

A gente cruza-se


Sr fulano de tal...


Deixei a 07 pela última vez no parque...e com ela muitas histórias e muitas aventuras. Foram 3 anos de viagens sossegadas e sempre a elevado ritmo que me permitiram aprender ainda mais pormenores da profissão que tenho. Ao volante da 07 conheci muitos lugares, lugares de uma beleza idilica, corremos sinuosos trajectos a par. Acredito que se a 07 tivesse alma e coração, certamente estaria triste nesta hora, aguardando o novo hóspede e companheiro de viagens.
Uma nova viatura virá agora substituí-la. Espero manter este blog, esta grande parede onde escrevo o que não falo, onde me abro como se precisasse de partilhar pequenos nadas de que a vida se vai fazendo.
Adeus 07...ver-te-ei no parque ou nas estradas da Europa com outro alguém ás tuas rédeas. Mais importante que o material é o sentimentalismo que fala nesta hora. A gente vai continuar...mas em rotas distintas. Até sempre Xaleca.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Ponto fraco


A Coíncidência Feliz de ser DAF "Dá-me a força"

Sr fulano de tal...

Tenho dias de tristeza absoluta e sem perceber o porquê dessa queda de mim mesmo em mim. Talvez sejam dias em que dou por mim perdido em pensamentos que me demovem da vontade de ter um dia bom, um dia positivo. E som explosivo que grita dentro de mim para aquilo que sou atordoa-me e afunilam-me ao mais profundo de mi mesmo. Dias em que não me dou com o meu oscilante estado de humor, como se novas paixões renascidas a cada dia tivessem o dom ainda de me tocar nos sentidos. Uma chamada, uma mensagem, uma busca rápida nas modernissimas redes sociais por um amigo que nosdiga um simples olá. Isso basta.

Hoje, talvez tenha inserido algo num cofre migratório, que irá e virá sempre nas ondas da lembrança e que de tão doce teve, que suponho que o que me fez falta afinal durante todo o dia foi um abraço.

Bom fim-de-semana a todos

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Parabens Xaleca...três anos

Há uma luzinha sempre a brilhar sobre nós...dia de 3ªaniversário, juntos.


Srs fulanos e fulanas de tal...
Andei distante...andei distante do blog, não de forma voluntária mas porque uma sucessão incrível de acontecimentos me fez ficar um pouco mais distante. Tinha dois pequenos textos prontos a publicar mas o pc portátil que tinha, acabou por fumegar mais que um very-light e eu sem saber porque, pu-lo cá fora da cabine para que fumegasse em paz...talvez tenho perdido tudo mais uma vez. A par disso andei também um pouco ocupado com outras coisas, relacionadas com trabalho, com familia e com algumas coisas já combinadas para Dezembro que me foram ocupando, digamos assim o tempo.
Faz hoje precisamente 3 anos que a Xaleca me foi apresentada e atribuída. Faz hoje 3 anos que timidamente lhe puxei a baraça da buzina para que ela soasse, fundo, o inicio da sua vida como peça fundamental no transporte de mercadorias. A primeira viagem, foi a Montecassiano a Itália, o primeiro "toque" (uma cancela de portagem em França, que não se levantou á nossa passagem), a 1ª avaria (um tudo de água da sofagem que se soltou, inundando o habitáculo), o 1º embarque (Barcelona-Génova), o 1º acidente (um mercedes que se meteu debaixo da pequena em plena VCI), o 1º controle ( em França, pois claro) e a 1ª e única multa em 3 anos...na Alemanha 129€ por falta de Toll Collect). São ligações...é aqui que vivo enquanto ausente, é aqui que me abrigo quando exposto é aqui que me refugio quando quero estar só.
Hoje, dia 5 de Janeiro, bebo um copo como quem festeja um aniversário de um amigo, felicito-me por não ter tido problemas graves ou mesmo ligeiros com o camião que um dia me caíu em mãos. Tivemos as coisas do costume...uns furos, um ou outro dispositivo electrónico que se reformou mais cedo que nós e nada mais. E Estou hoje, dia 5 de janeiro, no mesmo local onde orgulhosamente parqueava a Xaleca pela 1ª vez, para a 1ª noite dentro dela, há 3 anos atrás: em Alsásua.
Fizemos juntos grandes viagens, juntos enfrentámos nevões, tempestades, noitadas a bater estradas, dias de calor, cargas pesadas, controles de rotina, subidas íngremes, descidas sinuosas, dias felizes e dias de alguma tristeza, mas sempre juntos...e amigos.
Encontro-me a fazer neste momento a última grande viagem na 07...a xaleca vai agora encontrar um novo "dono", alguém que a trate como coisa própria sua. Talvez não me embargue ainda a emoção do que escrevo, ainda faltam uns dias para a parquear definitivamente no parque e dela retirar o conteúdo que lhe pús e deixa-la assim, o melhor que puder para o seu novo residente, mas sei que esse dia chegará e com ele um pouco de tristeza, apesar de receber uma nova companheira que espero me seja tão cúmplice e amparo como foi esta. Recordar as viagens juntos, os becos por onde andámos e de onde sempre saímos, recordar a Sandalita e tudo o que ali de perde assim...o primeiro amigo que se levou connosco numa viagem, Avelino, saber de cor cada pessoa que por cá passou, a ultima...
Quero agradecer em nome da xaleca a algumas pessoas:
Logicamente a quem ma distribuíu, Jose Lopes de Sousa, ao Zé Ricardo que foi o nosso 1º operador, ao Bruno Melo, Ilidio, Paulo Pereira e Luis Pina, the last but not the least, Manuel Pinto (mecânico da empresa), ao Nicolas, Bruno Bordas e Agostinho Ribeiro por a terem tratado bem quando a conduziram. Meu irmão e cunhada que a apadrinharam. Á eterna Sandalita pelo espólio sentimental que deixou, Ao Avelino, ao Luis Moreira e ao Patacas, que lá dormiram algumas vezes. Nuno Ferreira e Zé Antunes pela camaradagem sóbria que emprestam. Ao Jorge Pereira e Anabela Carvalho da Beiracar que sempre nos receberam bem aquando das manutençoes. A vós todos que acompanhais aventuras e odisseias nossas, o nosso obrigado...