sábado, 27 de junho de 2009

Mosquitos por cordas


sr fulano de tal...


Não fossem a merda dos mosquitos "kamikaze" que se esborracham contra o para-brisas da minha companheira, seria fantástica a jornada diária. Mas não, cabrões dos mosquitos têm sempre que vir de encontro ao camião. Imagino-os ainda de peito feito, fanfarrões, como quem diz: "ja vais ver...vais levar um encontrão que te vou virar o camião ao contrário". E zás...mais um naco de merda ali a impossibilitar a visibilidade ou simplesmente ali a meter nojo como quem pensa que é apesar de tudo um ornamento apreciável mesmo depois de um choque frontal com uma caminete...estupidos mosquitos. E são borboletas, passaros, tudo o que possa voar...espero que não venha ái um dia destes um airbus meio enganado com as coordenadas. Um gajo fuma um cigarrito, abre o vidro para respirar um pouco de ar natural e lá vem eles cá para dentro. E as abelhas?? Um destes dias fui mordido por uma abelha que entrou na cabina...mas já passou o inchaço mas acreditem, não estou pronto para outra. A abelha não era a Maia, a destonada ferrou-me mesmo perto da nalga, eu estava de calçao e ela entrou perneira acima. Tipo...a conduzir e uma abelha dentro dos calções...Imaginam o pânico? - Certo..."paniquei". Tipo...senti medo até de mexer a perna para ir ao travão...em movimento lento e cuidado la retiro o pé do acelerador e meto no travão...um olho na estrada outro nos calções. Urgente parar...4 piscas, encosto á berma, vou travando as 40 ton que trazia nos delegados pulsos e quando paro e tento localizar a entrusa em tão delicado (e doloroso ) lugar sob-calças, quando sinto o ferrão a entrar em mim. - "Puta do caralho"- gritei eu antes de a desfazer em pedaços na palma da minha mão, a tortura-la á medida das dores de uma ferradela de abelha na virilha me provocavam.
A viagem desta semana foi cansativa, é certo, mas por outro lado permitiu-me passar por experiências tão raras...foi quase um porta a porta com emigrantes Portugueses como clientes. Pessoas que me receberam com um copo, um lanche ou jantar. Pessoas que pareciam estar a receber alguém da familia tal a forma como franqueiam as portas. Para mim também acaba por ser bom, está certo que exige bem mais de mim, mas por outro lado também me sinto bem mais Português em locais onde não oiço falar outra qualquer língua. A lingua de Camões ainda é uma Pátria, p'lo menos para mim e para muitos mais como eu.
(passam uns dias e não me apetece falar de mosquitos...nem de abelhas)
Hoje apetece-me falar do outro Verão...o Verão de verdade, aquele Verão de estar com os amigos, todos de férias, as noites em que uma viola á meia-noite rasga o silêncio do largo que me viu crescer, de um largo em que cada pedrinha tem a sua história. E os vizinhos mais velhos, aqueles que sse deitam mal a galinha fecha o olho, sobem ás janelas e sacadas e vão ouvindo e pedindo mais porque afinal de contas está fresca a noite e sabe tão bem. Por agora observo só, só lhe sinto o sabor nos dias bons...os dias estar em casa com a familia. Há sempre esta coisa de ver os amigos que há 11 meses ou 6 meses a distância colocou do lado de lá, sentir que afina a cena de ouvir Zé Malhoa de vidros abertos até nem é mau de todo...são tantos os dias em que não somos surpreendidos por uma musica em Português num qualquer país estrangeiro. O meu Verão aqui dentro não deixa de ser fixe (não fosse a merda do mosquitame), até se rola. Esta semana ainda não vi muitos, mas lá se vai vendo um ou outro carro carregado de malas, com o cachecol da equipa lusa, com um bom chapéu de palha atrás e muita saudade a viajar. E é tão fixe quando passam por nós...tocam, apitam e acenam como quem diz: "este Tuga do camião já vai para casa...e nós tambem" - e lá seguem. Nas areas de serviço carros com os nossos emigrantes começam a ser vistos todos os dias, por vezes até se encontra malta amiga que desce da Suiça ou França...mas há festa, sempre. Pressupõe-se que talvez o trabalho, o desempenho ou forma de estar de um homem definem o que ele de facto é mas eu não me baseio nisso para definir uma pessoa. Mais uma vez lembro o Joca, meu migo ali do blog do lado (http://joni-driver.blogspot.com/), que sendo professor veio á estrada de certeza beber algo que lhe será útil para a vida. Hoje é o Sr Prof, mas ontem talvez fosse mais um "motorista Tuga, que mija contra as rodas do reboque em pleno parque". Na verdade até sabe bem ouvir um ou outro artista cá do Burgo a saltar vidros fora em qualquer estrada europeia que em si leve um carro carregado de saudade e um chapeu de palha atrás colocado... E após correr os mosquitos da cabine, vou ali dormir e amanhã volto...
PS- Dass, um gajo entra em Portugal e sente-se o quao bom é encher os pulmões com o ar que adoça a Serra da Estrela, procura-se noticiário para nos actualizarmos e ouvimos cada puta...Portugal está de cangalhas e eu sou cumplice, concerteza. O bloco defende a liberalização da coisa?? Era nesses, era nesses que o meu xis era bem colocado. Andou tudo a desviar e o povo que se lixe...e népias.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A bateria

Foi neste flash que iluminou todo o Porto de barcelona que a bateria se fod...lixou

Sr fulano de tal...


Ando a precisar de umas férias...o meu corpo já vai pedindo, o novo contexto familiar quase exige até para me situar e enquadrar com a situação. Quase deixei de ter tempo só meu...mas é por uma boa causa e então enquanto houver baterias eu cá estarei. E é de baterias que vos venho falar, não das baterias que por vezes nos irritam tanto quando não conseguem sequer fazer o motor roncar só um pouco. Não dessas que temos que ver a água ou pedir ao menino Jesus e a todos os Anjinhos que nos ajudem por milagre quando não houver carga electrica para devolver a marcha do veiculo ao caminho de casa. Falo das baterias da minha máquina fotografica digital. Ai, a minha cabeça precisa de férias...mas que raio de mês para a minha máquina fotográfica. Primeiro não sabia dela. Procurei tudo...fizemos mudanças em casa e ocupei outra parte e andei lá á procura e nada. Mergulhei no carro do sport billy (também tem quase tudo) e nada. Onde anda a máquina afinal? A semana passada encontrei-a, mesmo aqui a olhar para mim como quem ri e me chama carinhosamente cego. Mas que raio de mês...adiante.
A mais recente viagem fui para Lyon.O tempo de entrega ermitia e então seguiu-se pela estrada do centro...já havia muito não passava lá. N fundo pude comprovar tudo o que na anterior seca que vos dei (a quem parece que não tem mais nada que fazer e se põe a ler esta merda ), mas desta vez com mais tempo para certos pormenores. Vi muitas placas negras verticalmente expostas nas bermas, algumas asseadas com recentes ramos de flores, saudade traduzida de alguém, outras ali apenas para lembrar quem anda na estrada. Lembrei-me de fotografar algumas e depois mostar aqui nesta caverna vestida de blog. Estiquei-me enquanto conduzia e nada, não lhe chegava e não podia parar, não podia sequer perder a noção da condução por causa da máquina. E olhava para ela e ignorava-a ao mesmo tempo que a desejava na mão a fotografar a zona para mais tarde observar atentamente o que não olhei por estar a trabalhar. E fui naquela luta quase quatro horas, a ignora-la, a convencer-me que mais viagens teria por ali e que poderia até numa delas ter a possibilidade de parar mesmo para capturar o testemunho fotográfico da coisa. Qautro horas, momento de pausa para o corpo, para a mente...há que dar uma vista de olhos ás capas dos jornais expostos nas areas de serviço. O tempo passa rápido e regresso ao camião. Preparo que que entendo poder necessitar no próximo periodo de condução. Água fresca no frigorifico, sumos, duas sandes, uma peça de fruta, tabaco com força e a máquina. Sim, lembrei-me da máquina e toca a coloca-la aqui, mesmo junto ao volante. Passo Angouleme, sigo por Bellac, e já perto de Montluçon a beleza das estradas nacionais Francesas (algumas para passeio são fixes...mas para trabalho não me agradam...nada mesmo). Olho o retrovisor, nada na manga, nada no bolso e zás, ei-la ali na minha mão pronta a registar o momento. Tudo pronto para mesmo sem ver capture então as imagens que pretendo e siga, toca a dar ao dedo enquanto os olhos vão na estrada...e as putas das baterias népia. Nem para a luz piloto davam. Ora bolas...andei ali um dia a preparar o momento e as baterias tinham ido embora para sempre.
Á hora marcada para descarga lá estava a abrir o camião. Depois de confirmar a recepção correcta da mercadoria e recolher os documentos de carga saio da unidade fabril. Quase nem acendo um cigarro, uma msg cai e é daquelas mensagens que desejamos...carga.
Faço-me de novo á estrada, o trajecto escolhido para o local de entrega leva-me a Andorra la Velha...Ainda em Perpignan me despeço da A9 em direcção a uma nova fronteira pela qual nunca sonharia passar até porque nem o nome dela sabia mas la segui. A entrada da RN 116 até nos recebe bem...quase ao nivel do mar, abre-se como se uma auto-estrada fosse...a faixa larga é sempre muito apreciada pela malta do volante. O meu velho mapa de França dizia-me que iria apanhar estrada acidentada, com passagens por montanhas mas nunca pensei subir aos pirineus que ainda conservam neve no cume. Os ouvidos estouram, a subia é ingreme, a estrada é estreita e a xalecazita lá vai usando a potência para puxar as 24 tons Pirineus acima...Só para transmitir uma noção da estrada travei muitas vezes a subir e nem dos 40kmh passei...é que nem os 460 cavalos da xaleca tinham tempo ou espaço para galoparem. Liga o meu operador (é benfiquista e quem assim é só tem o que merece...) e eu transmito posição e informo-o da má aventurança da escolha de itinerário. Por um lado ía aborrecido, tipo, foi mesmo mau o tempo perdido, mas gratificante pela imponência dos Pirineus e as suas casas tão particulares. subi montanhas, serpenteei entre elas, pertenci-lhes...passei desfiladeiros com centenas ne metros de altura...onde escondi o meu medo para dar lugar antes á observação possivel de tudo quanto de belo a natureza deu e eu nunca houvera visto. E a descida acontece sob chuva...dos 1800 mts de altitude aos 700 foram pouco mais de vinte minutos. De novo os ouvidos, as garrafas de água a encolherem-se fruto da pressão, o motor surdo e montes de sons misturados que não distingui...os ouvidos estalam, eu tento manter todos os sentidos despertos...sim, o cheiro também, porque cheira a mimosas lá...ou outro perfume daquelas montanhas que dançam, que de noiva de Inverno se vestem para na Primavera se despirem em flores e aromas...olho a máquina e ela não tem pilhas, as baterias não aguentaram o abandono...há coisas que se perdem e essa viagem foi isso mesmo...perdi a oportunidade de partilhar algo tão belo mas ganhei nos sentidos, ganhei na alma e sobretudo descobri até algo de mim, algo novo... Mas enquanto escrevo olho para a máquina e penso que já é hora de mudar as pilhas. As tais baterias que não sao aquelas que nos deixam apeados quando menos esperamos. Talvez nas férias me lembre das pilhas e tenha tempo de ir á loja do Cheng comprar um par delas, com garantia de 2 horas de vida util...