quinta-feira, 16 de junho de 2011

P....que Paris


sr fulano de tal...

Paris...oh quantas almas sonham vir a Paris e ver-lhe ser proporcionados uns dias que por certo lhes vão fazer transbordar o coração de amor e romantismo? Muitas. Até eu desejo vir a Paris. Paris é cidade luz, Paris é capital de romantismo e no seio de homens e mulheres que diariamente se desembaraçam nas estradas da Europa, Paris é apenas a capital de mini-saia. Há uma Paris dentro da Paris que conhecemos. Ou seja, há Paris para quem vem em turismo e há Paris para quem tem de vir cá e desenrascar-se neste formigueiro de formigas mil e que vou conhecendo aos poucos.
Paris, estamos a chegar a Paris. Sente-se a orla negra do fumo que paira sobre a cidade que baptizaram de cidade Luz, aos poucos a estrada desaparece coberta de veículos em marcha lenta que tentam entrar na cidade. São as longas horas de filas de trânsito em que a nossa atenção deve centrar-se mais nos espelhos retrovisores do que no carro que segue imediatamente a seguir. Estar no trânsito de Paris não é mais que um jogo de estratégia onde se procura não ser parte de nenhum acidente, é estar muito mais atento ao que nos rodeia e ao que fazem alguns condutores e tentar adivinhar ou antecer alguma situação iminente de perigo. Um exemplo? Viagem que me trouxe até aqui, Paris. Entrada no periférico, duas faixas de rodagem quase paradas, a confusão de veículos é imunda e parece nascer do chão. Sigo ali do alto da xaleca a observar o que me rodeia enquanto vou circulando a passo. Observo a pericia dos motociclistas que vão circulando entre as filas de trânsito e reparo que na fila á minha esquerda um carro procura passar para a minha fila. Sei que agora vou ter de ter cuidado pois quando menos esperar aquele carro vai-se meter bem na minha frente e eu não lhe poderei passar por cima. Vou atento. Olho o espelho, mais um motard aí vem serpenteando o trânsito, passa por mim e nesse momento o carro muda de faixa. Ora aí está o que queria dizer...era expectável que aquele carro fosse fazer estragos, e a certeza disso ficou evidente quando vi a mota bater no carro que mudou de faixa sem olhar bem pelos espelhos e vi a mota mas mais que isso, o corpo do motard, ser projectado para os rails...ali, diante de mim, pedaços da mota e uma confusão instalada. Salto do camião e corro para o motard que não mexe, que não reage ao que lhe tento dizer no meu Francês de passar fome e sede. Parecem minutos os segundos em que noto que parece que ninguém se quer meter naquilo. O homem do carro saiu e a 1ª cisa que faz é ver os estragos na lateral do carro...mete-me nojo. Em segundos havia ali médicos e enfermeiros, pessoas que iam ara os seus empregos e estavam parados no trânsito. Não mexi no homem deitado no chão, vi-o apenas bater com violência na barra que suporta os rails...há sangue a escorrer-lhe de dentro do capacete e eu prefiro não mexer a vitima porque na verdade, senti-me melhor que fosse quem sabe lidar com estes casos. Deixei o local do acidente depois de recuar uns metros, a custo, para poder contornar o acidente e seguir. O homem morreu? Não sei...estava demasiado chocado com o que estava a acontecer diante de mim e como já estavam médicos e pessoal a assistir achei bem trar dali camião para que o trânsito fluísse melhor na faixa que ficou aberta.
Esta Paris é a que conheço...uma Paris com uma periferia constituída por bairros obscuros e demasiado perigosos á noite, uma Paris quase vedada a turistas que se preenchem em visitas ao Louvre, á Torre Eiffel e ao Notre Dame e que se deixam passear de bateaux pelo rio Sena. É essa Paris cheia de luz e de côr que quero conhecer também...ir ao cair da noite a St Michel e correr todos os bares até encontrar o ideal onde beber vinho e ver um qualquer musical Francês.
Gostava de ir ao cemitério de Pere-Lachaise, não por ser o maior cemitério de Paris e um dos maiores do mundo, mas sim porque creio que o ser humano é uma coisa extremente complicada e acredito que eu também tenho as minhas pancadas no miolo, e por isso a vontade de ir lá junto de algumas sepulturas. Gostaria de poder rezar um pequeno obrigado e um silencioso pedido de desculpa a James Douglas Morrison, Jim Morrison para quem sabe que era o vocalista dos The Doors. Obrigado por criar a musica que muito me acompanha nas viagens pela madrugada e pedir-lhe desculpa por uma vez ter dito que ele era bêbado e drogado. Mas antes de terminar com esta apoteótica visita ao túmulo do Rei Lagarto, iria passear junto de outras sepulturas como a do escritores Balzac e Óscar Wilde, de gente da música como Edit Piaf, Maria Callas, Chopin e Rossini. Este é um objectivo para uma próxima viagem a Paris que me obrigue a um fim-de-semana aqui. Isso sim, é Paris. Que se lixe o bateaux porque uma vez andei de cacilheiro e deve ser a mesma coisa...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A loja


Sr fulano de tal...
Tenho, ás vezes horas, em que penso que se fosse um edificio seria apenas uma loja de coisas absolutamente desinteressantes. Uma loja de prateleiras forradas a papel colorido e preenchidas de coisas desiteressantes, própria para pessoas que passam por lá depois de repararem que ainda há espaço vazio no saco das compras, porque ir ás compras e não rentabilizar o espaço vazio que se traz no saco dá a sensação que fomos ás compras sem precisarmos de ir ás compras.
Uma loja numa esquina onde nem o sol chega, onde uma luz ténue resiste para lá do desinteresse iminente e eis-me ali, a minha figura, velho e perdido entre prateleiras de coisas desinteressantes que acumulei lá dentro apenas para serem levadas em espaços vazios dentro de sacas que já transbordam. Uma porta e duas pequenas montras, um canto frio e cinzento, mas de cortinados amarelos.
Uma loja de coisas desinteressantes apenas.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Recado a uma estrela


fulana de tal...

Senta-te aqui, vamos lá falar com calma, está bem? Conta-me o que sabes de mim...vá lá, diz-me coisas do meu passado, fala-me de coisas que me traumatizaram, marcaram, condenaram...vá lá, fala do que sabes de mim. Pois é...não sabes nada de mim. sabes as coisas vagas da vida, que gosto de futebol e de conduzir sem destino, pena que o preço dos combustíveis não permita meter gasóleo no carro e ir até á Roménia abraçar a metade da minha carne que em Bucareste se agita em saudade. Sabes que gosto de bandas e que adoro tocar viola e cantar para os amigos. Que gostavas de saber realmente de mim? Porque não me escreves um bilhete e mo pões na mão fechado, para que eu faça de minha mão um cofre migratório e o abra apenas em minha casa, no meu cantinho e o leia de forma a dar-te de mim o que precisas de saber?
De que cor é a tua letra? Como a escreves? Nunca a vi...Há uns quantos homens sábios que atravês da letra dizem conhecer a especie de pessoa ou o caracter da pessoa...e eu, não sendo sábio, nem o desenho da tua letra conheço. Não te conheço o arrastar dos pés pelo caminho que te traria até mim.
Acreditamos nas estrelas porque as vemos daqui...mesmo estando tão longe vemo-las. Mas a ti não te vejo, talvez existas só mesmo num espaço cósmico meu e que no fundo até saibas da minha existência, mas é só isso mesmo. Saber que existe.