sábado, 26 de dezembro de 2009

Carta ao Pai Natal


sr fulano de tal...

"Querido Pai Natal,
Acharás estranho que te escreva hoje, 26 de Dezembro, mas quero esclarecer umas coisas que me ocorreram desde que te enviei a carta cheia de ilusões na qual pedia que trouxesses uma bicicleta, um comboio eléctrico, um Nintendo e um par de patins.
Quero dizer-te que me matei a estudar todo o ano, tanto que, não só fui dos primeiros da minha turma, mas também tirei 20 a todas as disciplinas e não te estou a enganar. Ninguém se portou melhor do que eu, nem com os pais, nem com os irmãos, nem com os amigos, nem com os vizinhos. Fiz recados sem cobrar, ajudei velhinhos a atravessar a rua e não houve nada que eu não fizesse pelos meus semelhantes e mesmo assim, que grande lata... oh Pai Natal.
É que deixar debaixo da Árvore de Natal um cabrão dum pião, uma merda duma corneta e um car*lh* dum par de meias... f*d*-se... quem é que pensas que és... barrigudo do car*lh*?
Pois é, porto-me como um camelo a merda do ano inteiro, para vires com essa merda de prendas e como se não bastasse, ao paneleiro do filho da vizinha, esse otário estúpido como car*lh* que grita com a vaca da mãe e é um pandemónio lá em casa, tu deste-lhe tudo o que ele pediu.
Agora quero que te f*das e que venha o car*lh* de um terramoto e nos engula a todos, porque um Pai Natal incompetente como tu, não faz falta a ninguém.
Mas não deixes de regressar no ano que vem, porque vou rebentar à pedrada as p*tas das tuas renas e hás-de vir bater com os cornos cá em baixo, que te hás-de f*der.
Vou começar pela tua rena Rudolph, que tem nome de maricas, e hás-de andar a pé, já que a merda da bicicleta que pedi era para ir pra escola, que é longe comá merda.
Ah!!!...É verdade...não me quero despedir, sem te mandar para a p*ta que te pariu, pois tu és um filho da p*ta. E aviso-te que para o ano vais saber o que é bom, pois vou f*der o juízo a toda a gente o ano todo.


P.S.Quando quiseres, podes vir buscar o pião, a corneta e as meias, mas acorda-me para eu te enfiar essas merdas todas pelo cu acima.

In : http://jocayahhhh.spaces.live.com/?_c11_BlogPart_BlogPart=blogview&_c=BlogPart&partqs=amonth%3d12%26ayear%3d2005

domingo, 20 de dezembro de 2009

O sol a destempo


Sr fulano de tal...

Queira vossa Excª saber que entre o Sol e a Crise há uma diferença fundamental. O Sol quando nasce é para todos, já a crise...bem, essa quando nasce é sobretudo para os mais pobres...A propósito tenho que realmente partilhar outra coisa que hoje me preocupa...o estado do tempo. Este ano choveu quando devia fazer sol e há sol quando devia chover ou nevar.Penso que a razão do descontrolo do tempo reside do facto de a meteoroligia ainda não ter sido privatizada. Talvez se uma multinacional tomasse conta do caso o tempo voltasse ao normal.

PS- A foto vem a calhar com o momento...
PSD- Não é aqui chamado...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O minuto maior...


sr fulano de tal...
Passaram três semanas, quase 8000 kms sem que o solo pisado fosse Portugal. A viagem começou em Vieira de Leiria e depois daí os objectivos finas de viagem foram Ponferrada (Espanha), Treviglio (Itália), Vitória (Espanha), Dortmund e Dusseldorf (Alemanha), Bilbau (Espanha) e finalmente Avanca (Portugal). Deslumbrei-me imenso com o muito do mundo que os meus olhos puderam ver enquanto a cruzada não chegou ao fim. Mas também a saudade de casa pesa, os olhos carregados pesam e a cada dia a menos para o regresso é um dia a mais na nossa penitência...
Vieira de Leiria...entro na mata nacional. Nunca vim para estes lados, nem quando ando sem destino a passar uns dias de repouso em que nada é planeado. Vou para onde me dá na gana, se me apetecer amanhecer em Vila Flôr e anoitecer em Caminha só porque pensei que lá seria um lugar fantástico para acabar o dia, faço-o. Fiquei com vontade de ir para aqueles lados nos dias quentes do Verão...sozinho ou não, é lá que levarei a minha vontade...após descarregar e levar uma liçao de vida de sofrimento contido e mal escondido de um homem que afinal apenas quer esconder a fragilidade que a vida e as coisas menos boas com que por ela foi contemplado, segui, já "vazio" em direcçao ao local de carga.
Entro na N 109 direcçao norte...conheço esta estrada onde passei tantas vezes quando estava a ter instrução de conduçao categorias D+E. Tirei todas as cartas na tropa com excepção da ligeiros, que de resto ja tinha quando fui á Inspecção Militar. Lembro cada um dos instrutores...já os conhecia. Paro na Guia...vi uma loja que vende instrumentos musicais. Nao tinha cordas e precisava de cordas para a minha viola. Sinalizo a paragem, 4 piscas, o agente de autoridade observa e antes de me chamar já me vê ir na direcção dele:
- Bom, dia...sei que tou mal parado...é um minuto.Preciso de cordas e ali tem...tou de partida e isto ajuda-me naquelas horas...
Ele olhou e com um sorriso transmitiu-me a calma que precisava naquela hora...Só queria um minuto e ele deu-mo. Simples. Aquele minuto valeu de muito...mais que outros minutos que teve essa hora. Não é fácil para um camiao em segurança numa localidade. O custo elevado das multas que são aplicadas fazem-me muitas vezes adiar as coisas...e coisas tão elementares como ir a um multibanco. Aquele minuto dado pelo GNR iliminou algum pánico que poderia existir se simplismente abandonasse o camiao na faixa de rodagem, numa estrada nacional dentro de uma localidade como foi em Guia, Fig da Foz. Porque há sempre um ou outro que nao entende que se parei ali é porque seria para demorar mesmo pouco, há sempre quem nao entenda que se quiser ir a um multibanco terei de ir por o camião fora da localidade, parqueado em segurança, seguir até ao MB, nem que isso implique uma caminhada de meia-hora. E assim foi...mal saí do camião ouvi uma buzinadela. Falei com o agente de transito, entrei na loja, comprei dois jogos de cordas de nylon e saí sob o olhar compreensivo do agente que evitou ali as cenas das buzinadelas. Conclusão...consegui ao fim de um mês com a viola sem a 5ª corda resolver a situação.
Subo a A25...é terça-feira, o destino é Itália. Até á fronteira sinto o meu corpo pedir para não seguir como se as dores que se sentem fossem tão fisicas pelo que por vezes magoam...e ao passar o arame farpado tudo se torna mais distante...e a distancia de Salamanca para aqui torna-se igual, em certa forma, igual á distância que vai daqui até á China. Porque ao passar o arame farpado (fronteira) passamos a ser estrangeiros, passamos a ter roaming e o custo da saudade lembrado a cada telefonema e msg. E mandar uma msg de Salamanca (cidade a cerca de 110 km de Portugal) custa os mesmo 0.50€ que me custaria enviar a mesma msg da China ou da Samoa. Porque a lingua é diferente, a capacidade de expressão passa a ser reduzida e então, não conseguimos explicar como queremos, o que nos é por vezes solicitado quer por autoridades de transito ou minesteriais ou com certos clientes. Passa a ser distante porque diminuem os contactos com um mundo que criei para mim. Não me lembro de passar a fronteira para lá de sorriso aberto, mas lembro algumas vezes que a passei a chorar, como homem perdido, como que se o uico rumo que seguisse fosse apenas o da carga...custa-me. Quase se sente a solidão entrar e sentar-se ali ao lado. O baque que a solidão faz em nós quando se faz sentir é mil vezes superior ao bater de uma porta. E vemo-la ali...como puta vadia que me espera ali na fronteira e se instala no banco da direita e ali segue, de pés no tablier, como companheira. Aí, mal a rede do telemovel passa a ser estrangeira, eu meto musica...e dez minutos depois de estar para lá de Portugal, sou um homem que segue um rumo de vida e nao somente um rumo de carga rascunhada num CMR que a acompanha (CMR é documento que deve sempre acompanhar qualquer carga internacional, especie de uma guia.- Guia? Sim, não a Guia freguesia onde vende cords de nylon para a viola, mas sim a guia de carga). Ali cada dia de viagem não é mais um dia de viagem, é menos um dia de viagem. E cada cliente um objectivo que terei o prazer de superar e a marcha da "xaleca" lá segue.
Fim-de-semana na Iália...Fiquei numa area onde nem um colega Português parava...Passei a tarde de sabado dentro da cabine. Pelo rádio Cb lá ía falando com os "Tugas" que passavam no meu sentido mas que ainda tinham horário para trabalhar. Ao meu lado meia-duzia de motoristas Polacos, um Francês e um Checo. O frio que as expressões deles continham mesmo assim era superior ao do termómetro. Caíam os 1ºs flocos de neve na Xaleca. Não pensem que sou pouco sociável com os colegas de outros países, mas eles estavam na boa a falar a lingua deles e eu se nao fôr em Português não me sei exprimir como tal, o frio e o vento convidaram-me a ficar quentinho na cabine. Peguei na viola e cantei, até me cansar e até me apetecer fazer outra coisa qualquer que me permitisse passar o tempo sem que eu o contasse minuto a minuto, como tantas vezes aconteceu no passado e que me derrubavam por apenas ali estar...a contar minutos de horas que ainda teriam que passar até estar absorvido de novo pelo rumo...não meu, mas da carga.
Mas quando o rumo da carga é Portugal...quando sentimos que o rumo da carga segue paralelo a um rumo bem mais importante que é o rumo dos homens que mesmo sós não são vazios, que o sorriso volta, mesmo sem ser para saudar alguém. Sinto isso...sente-se isso pelos colegas Portugueses que passam e nos saúdam pelo Cb. Quem vem a descer para Portugal vem com uma vontade de trabalhar imensa, mas limitada pela consciência do excesso. Mas o espirito é que conta e é disso que estou a falar...os meus olhos quase riem quando na mensagem de carga o Bruno (meu operador) me aponta Portugal como destino. E canto sozinho, assumo a calma de quem sabe o caminho a percorrer...sem incertezas de ruas ou de distâncias. Apenas sabendo, tranquilo, que as placas a seguir são as que dizem Aachen, Liege, Valenciennes, Paris, Bordeús, Irun...Burgos e depois qualquer arame farpado. Desde que do outro lado seja Camões e não Cervantes.
E tantos kms depois o roaming fica na fronteira, a puta vadia salta fora para me aguardar de novo ali ou noutro qualquer lugar onde o arame farfado rompa alma e o coraçao quando pintado de fronteira que me separa. Sei que me hei-de arrepender de escrever isto, ou pelos menos questionar-me se o espirito de Natal mexe assim tanto comigo, mas até fico contente quando vejo a 1ª patrulha da BT/GNR...sem ter qualquer tipo de saudades da actividade deles, sei que pelo menos poderei ser multado em Português ou então compreendido por um homem que se sentiu compreendido pela outra parte do serviço: os condutores.
Tantas dias depois, tantas horas passadas e desmultiplicadas em minutos todos parecidos...mas nenhum tão importante do que aquele minuto concedido pelo sorriso compreensivo de um homem fardado que vigia a estrada, e que revisto na tela da memória me parece dizer:
- Vai lá...não é por um minuto que vais perder 3 semanas bem piores do que aquelas que essas cordas te podem proporcionar.

O meu amigo Joca, o outro, o tal que agora vai ás manif de Professores, dizia uma vez que a impressão geral que sentia da parte das pessoas pelos motoristas TIR era no sentido de que os motoristas seriam a outra parte do negócio do putedo. Seria então legitimo dizer que por vezes os agentes de trânsito são a outra parte da camionagem. Parece-me injustas as coisas vistas assim...

sábado, 12 de dezembro de 2009

As Renas e o pai Natal

Sr fulano de tal...

Chegou o Natal. As ruas iluminam-se de côr, transbordam de som e alegria, tudo tem um encanto especial nesta quadra. É neste especial quadra que também a cada esquina encontrámos o Pai Natal, figura carismática que marca esta época.Nas montras, na rua tocando os sinos, nas latas de coca-cola, nos papeis dos chocolates, nos placards de publicidade e em cartazes pendurados nos autocarros de transporte publico.Ele está em todas. O Pai Natal é hoje um simbolo comercial. O natal perdeu um pouco o seu valor em termos de religião, deixou de ser aquele dia em que se celebra o nascimento do Menino Jesus e passou a ser uma época comercial. As familias juntam-se para o grande jantar.Desde o bacalhau ao perú as ementas ainda têm os doces tradicionais. Aguarde-se o fim do jantar para a troca de prendas, outras vezes as prendas colocam-se nos sapatinhos para que as crianças cresçam mantendo a ilusão da existência do Pai Natal. No fim do jantar sai-se com o pretexto de ir á missa do galo, toma-se o café na tasca do taberneiro mais ganancioso da freguesia (único que abre a tasca mesmo no dia de consoada), encontramo-nos com aqueles amigos que procuraram dias melhores no estrangeiro ( com este governo não admira nada) e joga-se ás copas ou ao raspa.Tudo serve para sair de casa, desde o facto de a televisão estar ligada e termos que levar com o discurso do Exmo Sr Pres. da Republica, o discurso do Exmo Sr Primeiro Ministro e de sua Santidade o Cardeal de Lisboa D.Policarpo.Mas o que me traz aqui é falar do Pai Natal.
O Pai Natal...essa figura mítica.Nasceu na Lapónia há muitos anos atrás.A Lapónia é uma provincia nórdica, muito fria portanto, e durante o ano, o Pai Natal encontra-se por lá como que em retiro para a grande viagem que faz nesta noite em que distribui milhões e milhões de prendinhas pelo mundo inteiro.O trenó vai á oficina reparar o desgaste e as renas são encurraladas para recuperarem o esforço destas longas viagens e assim se restalecerem da jornada e d jarda também.
O trenó é uma geringonça feita em metal ou em madeira. É um veículo deslizante (não tem rodas , portanto) e para o Pai Natal o conduzir não precisou nem precisa de aturar o sempre aborrecido instrutor de condução...O trenó anda como os ladrões na rua, muito á vontade e sem problema algum. O trenó não consome qualquer combustivel e é de fácil manutenção e sem grandes custos (uns pregos ou uns pingos de solda).Tal como os arrumadores-auto nas nossas grandes metrópoles, os trenós proliferam na Lapónia.
São aos milhares, puxados por cães ou por renas, tornam-se logo nuns veiculos de tracção animal.
Em 1956 foi assinado o tratado de "la trenoire" em que Esquimós e Lapões acordavam entre si qual o tipo de animal a usar para puxar o trenó, a fim de caracterizar também através desse facto os hábitos e costumes de um povo.Assim sendo, os esquimós escolheram os cães e o Lapões escolheram as renas.É claro que a opção foi bem feita por parte dos Lapões uma vez que seria um inconveniente um cão ladrar perto das chaminés e assim acordar os meninos e meninas durante a visita nocturna que efectua no dia ou noite de distribuição de prendinhas.
A rena é um animal quadrúpede, o que permite dar uma certa velocidade ao trenó e como maior vantagem tem o facto de não atascar.Comendo ervas e plantas que sobrevivem aos nevões, as renas comem pouco e só o fazem três vezes por semana.Quase se pode comparar o camelo e a rena.Um bebe pouco e aguenta muitos dias, o outro come pouco e mesmo assim apresenta um alto indice de resistência.
As renas distinguem-se dos outros animais por terem uma pele castanha com pequenas manchas brancas que a protejem do frio e da humidade.Têm também uma enorme ornamentação na cabeça e orgulham-se muito disso e sentem-se vaidosas ( embora haja quem não se envaideça com isso e até se chateie).
Quando as renas ficam teimosas ou desobedientes e não querem puxar o trenó, os Lapões dão-lhe pontapés, chamam-lhe corcumelas ou vuarsas e em determinadas situações mais agrestes chegam-lhes a chamar filhas das putas.
Após este elaborado discurso percebemos que o velho não tem dinheiro quase nenhum, o Pai Natal é pobre.Poderia andar de helicóptero mas não anda.Prefere invadir a mente sã das crianças e dos adultos que sonham e creem que ele voa no seu trenó mágico.Seja como fôr e não vá o velho tecêlas, eu vou pôr a bota no fogão (devidamente apagado, não vá queimar-me um bem precioso que tanta falta faz nos pezinhos) e se amanha de manhã encontrar lá um rebuçado que seja ou uma latita de cerveja, farei um esforço para acreditar que o Pai Natal existe...plo menos no coração de alguém.
Um Feliz Natal deste vosso amigo Joca