quinta-feira, 28 de maio de 2009

França


sr fulano de tal...
Voltamos a Portugal...eu e a minha chalecazinha, a maravilhosa cafeteira 07 estámos de regresso. Semana aziaga esta, não entendo por que carga de água me senti assim tão deprimido esta semana. Talvez a doença do meu avô seja uma preparação para o pior que há-de vir, mas que espero presenciar mas daqui a ainda muitos anos. Ás vezes é assim, um problema seja de que cariz fôr torna-se num assunto que me abala porque no fundo um homem não está presente para resolver e neste caso, a recuperação da saúde do meu avô, por muito que custe, não depende de mim por isso urge pensar positivo para que aqui a cafeteira role, não é nina? Pois é...estás cansada, mais uma vez esta semana colaboraste de forma excelente comigo, não fossem aquelas pedradas na segunda-feira. Granizo do tamanho de bolas de snooker, até me assustei, pensei estar em Beirute e afinal era apenas uma calmissima rua de um arrabalde de Toulouse, mas que levou com o mau feitio do S.Pedro...ele há dias assim.
França...já nem sei se gosto de França ou não, tipo, não entendo esta relação que tenho com a palavra França. Assim que me surge na mente essa palavra, uma das galerias do crânio torna-se sala de projecção (caguei para o acordo ortográfico...ás vezes) de cenas tantas que essa palavra despoleta. E assim na massa cinzenta correm as imagens, sentimentos, eu sei lá... Detesto a França, não gosto da generalidade do povo Francês, e não tem nada a ver com o facto de nos terem arrumado lá naquela cena do penaltye do Abel Xavier, muito menos por terem mandado o Yebda para o clube maior de Portugal, um dos maiores do mundo senão mesmo o maior, mas que tem uma equipa de jogar á bola. A este respeito tenho a dizer que nada tenho contra o SLB enquanto clube e instituição de utilidade publica ou cena do genero, nada e até acho muito bem. Não curto é as conversas que me contam do Benfica campeão, tipo, gosto de história mas francamente...virem sempre com a mesma que o Benfica em decadas anteriores (eu andava a ser cuidadosamente ainda pelo meu pai) ganhava ao Porto e tal. Ora bolas, Portugal antes também dava tareias nos Mouros e até nos Fariseus e povo que vinha lá dos quintos do caraiii, e no entanto oh, andamos ara aqui a reboque sabe-se lá de quê. Ia dizendo que não gosto dos Franceses nem da França...mas depois quando lá chego bem tento não olhar , tento não me render, porque na verdade, apesar de ser um povo esquizo, o Francês tem vaidade de proporcionar excelentes quadros ao vivo em que nesta época os verdes prevalecem. Andar nas nacionais...ora lá está, eis aqui uma das contradições em mim: rodar nas nacionais e departamentais é seca, não se anda, o povo arrasta-se por ali em estradas estreitas por vezes e mesmo assim tem que a partilhar com outros...ás vezes nem um palmo sobra entre um e outro. As rotundas e as limitações de velocidade atrasam o serviço e lá vai um homem buscar mais um pouco de paciência sabe~se lá onde e entrega-se aquele tédio do "ando aqui há 2 horas e ainda não andei nada" e segue, tentando imaginar-se se alguma coisa ali existe que se partilhe. Ora aí está, há sim senhor e é aí que não me quero render mas não evito ceder um pouco e assim invejo aqueles barbáros terem um país tão arranjado. Ora deixa cá tentar explicar o que percebo desde aqui de dentro (estou na cafeteirazita a beber uma sagres geladinha...a rfm patrocina o momento e nós fazemos o resto...) posso entender. Há beleza e asseio em todas as estradas por onde tenho passado, mesmo nas zonas desabitadas não há mato nas valetas, há erva que é regularmente aparada, seguindo-se depois frondosas arvores que encobrem bosques...nas pequenas localidades há sempre flores ao longo da estrada, não se vê uma garrafa de lixivia vazia na valeta, nem um frigorifico velho num monte junto a um cansado colchão como em muitos outros países. Em alguns troços existem silhuetas humanas pintadas a negro que simbolizam o local onde tantas vidas quantas silhuetas se perderam. No fundo parece sádico, até mórbido, mas até aquela coisa negra está contextualizada com o que a rodeia. Mas tambem não é tudo bom. Em quase todas as estradas aparecem os gajos de azul, tipo, um gajo anda ali sempre de pistola apontada á cabeça. Já vi cenas do arco da velha protagonizadas por veiculos franceses e népia, mas se a matricula é estrangeira então a coisa muda de figura, é a caça á divisa estrangeira ou melhor, proveniente do estrangeiro. É por ter cão e não ter, é por dar peidinho e não dar, os gajos estão em todas e até vos confesso, estou aqui, em pleno parque da empresa e tenho medo de estar a ser observado atravês dos potentes binóculos do homenzinho de azul que se mete entre o mato na recta de Bordeus a ver-te acender o cigarro, vê até se a construcção do mesmo é artesanal ou não. Depois contas as passas dadas e observa se pões o raio da pirisca na rua ou no cinzeiro...Os gajos estão em todos os lados e de qualquer forma. É de mota, de carro, é de camião...a pé é que nada. Também lá não se justificam patrulhas apeadas porque eles por norma não gastam tanto pano para fardas como gastavam os gnr dos bons velhos tempos...aquele Reininho!!
Há muita história ali naqueles trilhos de trabalho e aprendi a disfrutar um pouco do que esta profissão me proporciona. Tem que ser e tem, então que tire mais proveito disso. Há um troço de estrada que gostaria de fazer a bel prazer... que vem de Metz a Pont-a-Mousson. Há campos onde se desenrolaram combates das gyerras mundiais, há cemiterios do exercito americano que emprestam sempre, apesar das lágrimas lá derramadas, um majestoso cenário em que o silêncio e o respeito nascem lá de dentro de nós...Gostava de poder lá parar sem que a policia me multasse e me levasse o soldo do mês.
França, não gosto da França nem dos Franceses...mas simpatizo com um gajo chamado Chissoko...o que não quer dizer que não goste dos lampiões...

sábado, 23 de maio de 2009


sr fulano de tal...

E os meus dedos saltitam de tecla em tecla, escrevendo o que lhes apetece. É noite e a minha "Chalecazita" parqueada no parque em Viseu e eu aqui, parqueado num quarto junto ao que é realmente mais importante: a familia. Um homem lá vai, deixando um punhado de vida a cada um dos seus filhos, esposas, avós, pais...etc, ele parte deixando um testemunho de vida que se chama saudade... Engraçado, por falar nisso esta semana estivemos a fazer uma "pausula" numa área de serviço perto de Tours. Estava sentado ao volante a olhar para nada e a pensar em tudo ao mesmo tempo, e ouvi algo do genero: -"Pah, só quando vim pa isto, pah, é que me apercebi de como gosto da minha mulher, pah. Tás a ver? Um gajo vem e fica sozinho e quando um gajo de Inverno tem de cozinhar, comer e lavar a louça é que damos valor á mulher...e um gajo matuta nisso e ás vezes até perturba"-e acordei. Eu estava com um colega a ouvir um cd em que o meu mano acaba de participar...em mais um, e falavamos um pouco de tudo enquanto ouviamos o fado como fundo musical...aos poucos lá fui levado para longe e nem sei quanto tempo estive ausente dali, de mim próprio, e foi esta a frase que me despertou. Engraçado, o colega esteve ali a falar e eu não o ouvia...apenas a musica e as guitarras mexiam com os meus sentidos. Sorri, e não sabendo o que lhe dizer sobre aquela sua fantástica descoberta (só notou que gostava da mulher anos depois de estar casado com ela, lol), recordei um médico que esteve na minha companhia em Angola, na Clog6 em Huambo, que um dia me disse que ali, apesar de rodeado de pessoal e logo num cenário onde a agitação dos militares era continua, sentia falta da mulher, da esposa, e que ali teria reforçado o amor que sentia á sua esposa e mãe dos seus filhos. Foi o que depois nas quatro horas seguintes levei em mente. Casos tão distantes mas de contornos semelhantes e conclusão igual. A familia faz-nos falta. Tenho um amigo, também ele se chama Joca que expressa bem nas suas opiniões publicadas em blog, o que realmente é o homem por trás da máquina. Há rasgos de genialidade na forma com se expressa, e eu quando leio e sinto na pele a forma de como é visto o motorista de camião pelos demais utentes da via e não só. Para muitos sou apenas a outra parte do negócio de putedo, para outros o moderno homem das cabines, versão recente do mitico homem das cavernas e ainda para alguns (poucos, felizmente) sou um filho da puta que "só" anda a 90 kms e ando a estorvar a tentativa de recorde da viagem entre ali e acolá. Mas há muito mais do que isso em mim, em homens como eu, mesmo aqueles que mostram em horas de espera de carga em que afundados em tédio parecem querer ser vistos como homens despidos de sentimentos e medos. Quantas horas connosco mesmos, quantas horas de conversa em silencio, falando ás vezes para a "Chalecazita" pedindo para ela aguentar a uma boa velocidade a subir, em situações onde poderemos passar aquele colega que não pode circular a mais que 80...outras vezes ao passar-lhe um toalhete perfumao no tablier falo-lhe...entre uma passa e outra lá vou deixando que a Daf ganhe o seu lugar em mim. Eh pah, andava numa velha Scania que foi tão cumplice de mim, foi o meu antro, o meu lugar movel, casa, companheira de viagem que nunca avariava e a mudança para uma a estrear levou-me a dar uma pequena olhada a sós á cabine da velha companheira, ja sem nada meu e despida dos nossos objectos...a 1ª lampada que fundimos em conjunto, a scania parada com os Pirineus como pano de fundo, tinha nela as pequenas coisas que representavam gigantes recordações de quem me espera ao abrir a porta de casa. A Scania estava despida de nós...mas tive mesmo que me despedir dela e convencer-me que apesar de gostarmos muito do camião que nos foi confiado, ele não passa de uma ferramenta de trabalho, tal como nós, que deve ser udada para trabalhar. Nada de pessoal pois. Já falo com a minha Daf tambem, tem-se portado bem, apesar de estar já com umas cicatrizes que atestam a cumplicidade nossa. Um mercedes que calça a roda, uma lona violentada e um toque meu de traseira (o baptismo é sempre bom pronuncio...sinal que somos nós a colocar-lhes orgulhosamente a primeira medalha). Ouço-a na musica que jorra das suas colunas, ouço-a no seu esforço por me querer agradar, ouço-a devorar quilometros e sinto-a já nas suas expressões agressivas quando dela preciso do seu melhor. É a minha "chalecazita". Dentro de uma cabine ocorrem tambem pensamentos, correm emoções, mantêm-se vivos sentimentos que se carregam sem documentos...dentro de uma cabine decidem-se vidas, choram-se saudades, riem-se alegrias, sofrem-se as dores de quem gostamos...Esta semana eu e a Chaleca iremos até Toulouse e de lá não sabemos para onde, mas iremos. E a viola seguirá tambem porque a triologia assim obriga, e o bilhete é sempre para três...

sábado, 2 de maio de 2009

A caminete 07


sr fulano de tal...


Desenhei este blog, desenhei-o porque necessito tanto de comunicar como de comer...criei este blog onde poderei contar desvaneios, o pensamento que voa dentro da cabine de um camião que percorre a Europa. O blog existe para que se eu quiser espetar aqui uma frase que seja possa fazê-lo sem que com isso fira alguma susceptibilidade mais frágil.


Chamo-lhe caminete 07, e chamo-o assim porque é a bordo desse camião que me desfaço em mil pensamentos, é a bordo desse camião que tudo se consome em tempo, em palavras que não se dizem em silencio instituído. Pretendo sobretudo deixar aqui impressões resultantes das minhas viagens...porque tal como a estrada, tudo parece não ter fim. E há montes de coisas que se podem partilhar e por isso cá estou. Eis-me aqui...