terça-feira, 22 de junho de 2010

O regresso

Sr fulano de tal...

Só hoje notei que há muito tempo não vinha aqui deixar mais um testemunho de um dia ou de uma fase. Digámos que nestes dias até que apetece escrever sobre as mais variadas coisas que me sobrevoam e se me alojam no muito vago tempo de meditação, mas confesso, há preguiça de nesse momento aberto de ligar o computador. Quando sinto essa preguiça, a vontade de escrever mistura-se no fumo do meu cigarro e com ele esvoaça, vidro fora.
A xaleca está como nova...há uns textos falava da porta amassada mas hoje já durmo a noite descansada pois está reparada e como nova. A sandalita encontrou o seu pé de sempre e Portugal iniciou a sua participação no mundial da África do Sul. Entretanto morre o escritor José Saramago e as reacções (já vos disse que me estou a cagar para o acordo ortográfico? Então pronto, é verdade) foram as mais cuscuvilheiras e brejeiras.
Naõ havia engano...era de facto sábado e o rádio da xaleca jorrava detalhes paralelos é morte do escritor. Sem duvida que estava a chegar a Salamanca e já apanhava a radio portuguesa. Até ali vinha a ouvir as emissões culturais dirigidas aos emigrantes Portugueses no meu radiozinho de ondas-curtas, depois enquanto me aproximo do meu Portugal o sinal enfraquece e perco a emissao ligando o rádio na emissora nacional Espanhola, a RNE1. E era assim que vinha, a ouvir os noticiários vizinhos.
Saramago, não vou dizer que conheço a obra dele, se o dissesse seria mentir, mas li a Jangada de Pedra. Gostei. Mas também gostei de outros livros que li sem ter que colocar o escritor de cada um no trono da minha prefência. Mas Saramago jazia na sua urna ainda em Lanzerote, a rádio espanhola dedicava directos informativos sobre a morte do escritor. Figuras publicas Espanholas dos mais variados meios comentaram a noticia do dia. Há "especiais" informativos nas grelhas programativas, a radio anuncia que nessa noite ás 22h iria para o ar um programa de 2 horas com excertos de entrevistas do Saramago. Além dsso mais informava que no 1º canal da TVE dariam documentários, entrevistas do Saramago ao longo de 13 anos. Notava aí que se a perda para os Espanhois era assim tão grande a nivel cultural, então para a sociedade Portuguesa seria dantesca. Quase me orgulhava outra vez de ser Português. Notei um elevado respeito entre Espanha e o seu inquilino Português.
Salamanca...vou a rolar em Salamanca. Salamanca ja cheira a pinheiro e eu reconheço laivos de odor dos pinheiros lusos. Portugal está perto. O sol vai-se pondo no mar...dá impressão que o sol dorme ali na direcçao de Aveiro. A mao que estico diante dos meus olhos para tapar o sol em descendo, sobe ao rádio e eis-me a ouvir uma rádio Portuguesa. Já se ouvem as emissões principais do nosso Portugal e o tema nacional eram as cinzas do homem...a unica coisa material de um corpo que se reduz diante de ma cremação. Não seria respeitado um desejo importante. Interessante tambem depois o assunto do dia ser a ausencia do Presidente Cavaco Silva. Ora bolas...Espanha perdia um homem, nós ganhavamos uma polémica. Fantastica a ladaínha de comentários de importantes homens da nossa praça politica. Não sou Cavaquista nem nada que se pareça mas começo a ter pena do homem...não se ataca moralmente ninguém assim. Não se levanta isso enquanto um corpo o é pelo seu ultimo dia. Rapidamente ouvi desde um recanto dos Açores o Presidente justificar-se. Como o entendi, como o percebi...ele esteve bem na argumentação e daí lembrou que se calhar estando ausente estaria mais presente na perda que quem usava a ausencia como ataque cerrado á posiçaõ. Estava mais pobre culturalmente o seu País e da presidência seguiram as respectivas condolências do Palácio de Belém. Além disso não eram amigos, não tinham sido apresentados. Não era um funeral de Estado.
Desportivamente a semana era o caos. Não conseguia ver a nossa selecção jogar contra a Costa do Marfim. Nem conseguia ouvir o relato.Estava em Espanha quando a selecção espanhola caía sobre a Suiça em campo, mas o que conta é que a Suiça meteu uma lá dentro e a Espanha não. O povo cabisbaixo abalou para casa...era grande a expectativa. Gigante a dor desportiva. Segui a minha viagem, Paris foi o destino. Procedo á descarga, sigo para o local de carga onde chegado, esperei 5 horas para carregar. Acabada a carga saio do complexo industrial da gigantesca marca do mundo automovel, dirijo-me á recepção e népias. Nenhum estava aberto. Eu ainda poderia andar nesse dia e como é que não há ninguém na recepção para me dar os documentos de carga? A resposta á pergunta que ninguém me respondia viria em Português. Três motoristas portugueses que aguardavam já para o dia seguinte explicaram-me que a essa hora jogava a França contra o México. O futebol que eu não pudera ver ainda, estava a atrasar os meus propósitos. Tive de pernoitar ali, no parque gigante de Flins. O dia seguinte foi deprimente para os Franceses...
A teoria da Conspiração. Sintonizo a rádio alfa de Paris no meu rádio. A frança perdeu. Mais um dia em que vou ver "in loco" a tristeza de um país. Vou-me habituando. Em sobressalto tive a terrivel sensaçao de que poderia também ser mau Karma para os gajos. Perguntei-me se deveria ver o jogo contra a Coreia em Portugal. E não achei resposta. A resposta chegou ontem á hora do almoço. Estaca cá em Portugal e seria cá que veria o jogo. Ganhamos 7 a 0 e dava-me conta de que eu nao sou mau Karma. A Espanha não marcou e a França jogava mal ou nem jogava.
Voltei a ler esta semana o livro "A ilha das trevas" de José Rodrigues dos Santos. Um livro que li já 3 vezes e que irei ler mais vezes, embora a próxima seja daqui a uns anos. Fala de Timor, conta relatos impressionantes de lugares que conheço, e ao ler esses relatos é como sentisse ainda o calor do chão vermelho debaixo da sola da bota da tropa. Guardei tempo ainda, muito tempo ainda para pensar nas pessoas que me são queridas, que gosto de ter na minha vida. Tempo para perceber tantas coisas.
O meu fim-de-semana foi em Figueira de Castelo Rodrigo com a companhia de alguém bem especial. O tempo foi pouquissimo, apenas umas horas, mas com a sensação que nas minhas férias itinerantes em busca do local perfeito me levarão lá de novo com a minha maralha do costume e a parafernália de clarinetes e trombones, tubas e pandeiretas. Pelo menos passar por lá um serão como os que fazemos em Vila Flôr todos os anos quando vamos acampar. Era tão fixe que Portugal fosse descentralizado. Vi uma ou duas miudas de jeito, de resto pessoas de idade e a sensação que a juventude já há muito encontrou nos estudos uma forma de fugir aquela paz...
E mais uma viagem se inicia hoje aqui, em Ovar, onde me encontro. E mais umas horas virão para eu ser nada ou ninguém.