quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Metrónomo nulo


Sr fulano de tal...
Tias Polly e Ester:

Começam a cair as noites quentes, erguem-se mudas e lentas as noites frias e em breve o coro de sofagens de parque, será uma realidade...é assim que recebemos as noites frias onde as temperaturas serão em algumas ocasiões inferiores aos -8º. Os itinerários em gelo negro numa pelicula tão fina que é quase impossivel distingui-la do alcatrão molhado. Os bloqueios imensos causados pelos nevões com centenas de carros e camiões bloqueados nas auto-estradas, parados e sem qualquer hipotese de sair ali senão quando a estrada fôr desloqueada e aos poucos, limpa. E em dia de nevão voltaremos a cruzar Burgos com óculos de sol, porque quando neva a zona por ser ampla e aberta transforma-se em gigantes lençois almofadados que refectem a luz do sol, causando uma densidade de luz tão grande que me ardem os olhos e se sente o esforço que é necessário fazer para os manter com 60 % das suas capacidades. É fantástica a natureza...

E assim me vou despedindo e despindo das minhas t-shirts de andar por fora...claro que continuarão aqui as mais reles, até porque sabe bem sentir o frio no exterior e estar aqui dentro, nesta cabine, a desfolhar umas canções á viola e a manter a minha mente sempre mas sempre activa. A música mantem-me activo, sustem os meus primeiros impulsos...sejam eles de que indole fôr, é pelo meu ritmo que vou tocando o que sei e posso, ajusto musicas ao estado de espirito e é assim que eu vou. Vou, venho, fui, regresso e volto e em todos estes tempos verbais trago a viola. Tal como qualquer um de nós pode estar no Dragão, em dia de estádio cheio num Porto vs Benfica, e sentir-se mais só que o Socrates em noite de dia de eleições perdidas, também eu poderei trazer a viola comigo, ou estar a tocar e a cantar, nunca significará que estou em festa comigo mesmo até porque quando estou mesmo bem, prefiro não tocar... Andarei sempre ao meu ritmo nas canções que canto, ao ritmo do que consigo ao ritmo do que preciso. E este compasso que ninguém o tente alterar, nem com a mais temivel batuta em mãos de mestre que esteja...e é esta a cadência por onde me arrasto, sai a musica, a letra, o conteúdo mas sem o espalhafato que não desejo de todo.

Fechei o vidro á noite...começa a ser demasiado fresca para entrar livremente pela janela e instalar-se comigo aqui. Deixo-lhe apenas uma fresta aberta para que circule, fraca e fresca sem no entanto ser forte e gelada. Solto uns acordes de viola e rebusco da memória coisas que toquei em momentos que hoje sei terem sido marcantes para mim...pela frincha aberta da janela oposta vejo o fumo do cigarro que se queima como ampulheta na borda do cinzeiro vermelho, especial para colocar beatas a queimarem-se sozinhas. Não é Inquisição nenhuma, refiro-me ás pontas de cigarros. E apenas com uma ténue luz azul neón, expurgo o meu dia...deixo-me estar, ali, alheio a tudo e a todos sem no entando me deslocar do meio de nada. Vejo apenas o fumo a sair pela fresta...fumo branco, há paz e consenso, sou eu de acordo comigo mesmo. E a luz azul mostra-me o fumo a sinalizar a noite que vai saindo um pouco mais quente, um pouco mais colorida e pulverizada em acordes perdidos de musicas perdidas, só em mim achadas e em mim cumpridas...mas sempre sob a minha batuta, que acreditem, é para mim mesmo por vezes muito mais exigente do que a de algum entendido da matéria.
Começaram a cair as noites frias...

domingo, 4 de setembro de 2011

Lavanda poente

"O regresso...o fim do dia em Béziers...a 07 companheira sem a placa "Cão k Fuma" nem parece a mesma hihihi"


Sr fulano de tal...

Setembro...eis a ante-câmara do Outono que virá aí a passos largos, dourando os campos e as serras, onde cada pinga de orvalho será diamante a brilhar quando nascer o sol...é a invasão do amarelo e o fim de vida de muitas mil folhas que nos deram sombra. Eu gosto do Outono, não há calor a mais nem demasiado frio...não se toca em extremos, penso.
Viagem de regresso ao trabalho, destino Marselha, a senhora Lavanda das cidades de França. Enquanto em Portugal chovia a potes, aqui o sol brilhava em todo o seu explendor e os termómetros quase se viam sem mercurio para se esticarem até onde tinham que ir. Pessoalmente não gosto muito de Marselha, há muitos relatos de assaltos a camiões e vandalismo aos mesmos, nomeadamente cortes com facas nas lonas que protegem as cargas das chuvas. Sente-se a insegurança na area, daí que prefira sempre ficar um pouco distante do centro da cidade. Até porque nas imediações de Marselha, a parte das serras que a encerram a sul de Aix-en-Provence o ar colorido enebria-se com o aroma doce e paralisante a lavanda...viciei-me no aroma natural da lavanda. Já nos suburbio urbano, o ar cinzento que se respira é o mesmo de todas as urbes...o fumo e gazes que formam uma ténue nuvem negra que as absorvem.

As vistas sobre o porto e o aeroporto de Marselha. Desde uma colina em Les Pennes Mirabeau...onde me sentei e fumei


Dormi no alto de uma montanha com vistas para o mediterraneo...fiquei a ver aviões pousar e levantar voo, na pista do aeroporto de Marigname.Precisava berrar sem ser ouvio, abrir pulmões a tão delicado perfume a que me rendi. Em cada avião colocava uma dúvida que via seguir até onde os meus olhos podiam alcançar. cada um que chegava era a certeza de algo. A pista entra pelo mar dentro tornando mais belas as aterragens e descolagens, porque parece que vão mergulhar no mar mas não...eis que sobem e eis que descem em segurança. Sozinho, assim, no alto da montanha...pude sentar-me num rochedo e fazer um pic-nic a sós, cantando, fumando e tocando viola, afinal a companhia que muito me apraz nas horas mais vazias em que o trabalho não me preenche os sentidos. Corre um vento quente enquanto o sol se põe, passa a policia e pára mesmo ao lado do meu camião, metido na mata por falta de local onde estacionar junto á fabrica onde iria carregar pela manhã. Vejo-os em silêncio rondar atentamente o camião...até que me faço anunciar. Explico-lhes que estou ali por falta de parque e porque fui encaminhado pelo segurança da fabrica expedidora. Foram-se embora sem chatear e desejando boa noite. E fiquei ali, sentado a ver aviões chegarem e a partirem.
E voltei, iniciei regresso a casa não sem antes trazer Lavanda a perfumar até Portugal o habitáculo que me sustem. As noticias que me chegam de Portugal por intermédio dos amigos com quem vou contactando por mail ou msn falam-me de chuvas e frio em Portugal enquanto eu tento proteger a pele do sol que parece incidir mais nesse momento. Saio de Marselha com o sol a queimar-me a pele e sigo-o até assistir ao momento em que ele se esconde atrás do espaço mais longinquo que os meus olhos podem alcançar, desde Hastingues, já pertinho de Bayonne, em direcção aos lados do mar.
E Setembro é isto...o começo de uma renovação, ficam as folhas mais fortes e as mais fracas vão caindo...os dias ficam curtos e não chegam senão para o que é e quem é importante. Voltam os dias de agitação nas escolas e consequentemente um visivel aumento de viaturas ligeiras nas estradas de pais que levam ou recolhem os seus filhos das escolas. É derramar duvidas quase adquiridas por certezas absolutas irremediávelmente achadas e é sobretudo onde tudo começa para mim: o Outono. Caiam as folhas mortas de fracas raízes...mas venham dias amenos até que p´lo menos chegue o Inverno e torne a estrada em extensos e finos mantos brancos de neve.
Se vos pudesse dizer ou fazer sentir o quanto cheira a lavanda este bocado de letras...