segunda-feira, 25 de abril de 2011

Devolvam-me Portugal, O Grande


Sr fulano de tal...

Arrastado entre duas águas: as que já choveram e as que chovem. Eis-me regressado á Pátria que amo mas que cada vez mais parece menos aquela que me habituaram a amar. É de semblante triste e carregado que aqui escrevo e vos falo da falta de orgulho que hoje sinto em mim em ostentar algo tão digno como a identidade Portuguesa. Aprendi todos os valores plantados na minha formação moral e pessoal. Inspirado muito pelo meu avô materno, os dez anos nas fileiras do Exército não foram por amor ás armas mas sim pelo facto de estar a viver uma experiência tão grande a nivel profissional em que esses valores eram efectivamente postos em prática. Lembro o orgulho que senti em ser Português num momento em que em Angola, formado numa parada com cerca de 100 homens, o comandante Prelhaz (major então, hoje é o adido militar Português em Timor) da minha companhia (clog6) se dirigiu a nós e disse no seu tom sempre mau e agressivo: "Rapazes, o meu orgulho em vós é elevado...o valor do nosso exército não está nas armas que usamos mas sim na qualidade e lealdade dos homens que as carregam". Lembro de arrepiar e de me sentir gente, de me sentir parte de uma máquina que funcionava muito acima do que lhe era exigido e em que os tais valores eram acima de tudo prática habitual entre nós, militares. Lembro concerteza o orgulho que tinha nessa altura surgir fardado de bandeira Portuguesa na farda numa qualquer rua de Huambo ou Luanda. Hoje o meu mundo é outro, o meu mundo é o lado do caos e do conflito, é o lado do protesto mudo e da revolta, é o mundo em que me questiono se o Portgal que a tropa me ensinou é este liderado por quem nunca foi saber o que eram valores como lealdade, coragem, disciplina e sobretudo camaradagem. Merdas, há em mim revolta e mais revolta. E o pior é que não tenho com quem conversar estas coisas porque se o faço estarei a dar impressão que nunca fui realmente convicto das minhas lutas e tomadas de posição.
"Perguntei quem sou, o que faço aqui"...música que marca o festival da canção de 1974, ano em que nasci para o mundo, tatuado de português. Entre o cheiro dos cravos ainda frescos emergi a tempo de crescer nm ambiente de café onde se falava das contestações e reniões de partido, do tempo de ver homens crescidos serem escorraçados dos cafés por zelosos homens da gnr...Cresci num Portugal que hoje já não existe. Vamos a ver, as pessoas já não acreditam em nada, ou seja, há politicos com força e politicas nenhumas. Mais que um porto vs benfica, simbolo máximo da luta em portugal, um duelo televisivo Sócrates - Passos Coelho atrairá a malta sedenta de uma boa luta, só ofuscada pela dureza da verdadeira luta de galos que tantas vezes vi em Timor. Hoje já nem sei se o facto de ser socialista foi bom ou não, afinal de contas não há diferenças. Quem está lá GOVERNA-se e quem não está vai-se desgovernando...devia era logo ter gostado de um qualquer grande grupo Português. Era isso, talvez hoje em vez de andar com uma bandeira do Partido aos ombros por vocaçao, andasse com um cartaz da Belmiro de Azevedo ou Jerónimo Martins ao peito. Ou um pom-pom do grupo sonae.
Hoje o meu Portugal é liderado por politicos que muito devem a estes interesses dos grandes senhores do capital privado. A estes senhores devem obrigações os homens que ocupam o poder. E a politica que temos é esta, onde por perrice não se passa um pec e onde vemos agora um grupo de cidadãos de paises que julgavamos sempre demasiado pequenos quando comparados a Portugal e agora vemos que nos vem aqui resolver os problemas conjugais de um pequeno grupo de interessados que vai tendo departamento politico a gerir o País. Fodasse...é triste o contraste que sinto hoje. Sinto que fui pequeno na hora de escolher em quem confiar o meu Portugal. Escolhi mal politicamente. Hoje o que importa são os mercados, não é a vontade do povo, são as vontades do mercado.
Hoje sou um dissolvente...procuro resistir mas decididamente não encontrei espaço onde viver valores fixes que aprendi.O meu Portugal é agora um destino onde encontro a familia e amigos e a minha cadelita que me faz sempre uma festa á chegada...
Trinta e seis anos e um punhado de sonhos realizados, uma vida que achei tão rica em experiências, e que hoje vejo só ter sido possivel porque haviam ideais em mim. Ajudar a construir um mundo melhor, viajar, deixar de me fechar em Rio de Moinhos e sair conhecer mundo...hoje era apenas mais um. Portugal desanima-me, mehor, os mandantes de Portugal desanimam-me.
Portugal até hoje orgulhava-me por saber receber bem os forasteiros...nada tenho contra e quem me conhece sabe, que sou a favor de receber bem toda a pessoa que queira em Portugal viver e conviver cá com o que somos e o que temos, mas que não posso é calar a revolta de esta semana ter ouvido na RDP internacional uma sequência de coisas que me revoltam tanto que me faz vir aqui, decididamente, escrever, se bem que tenha que ter bebido um copo para na minha derrota vos dizer quem sou e porque sou assim.
Primeiro oiço o presidente da RTP a dizer que este ano pela 1ª vez a RTP deu lucros e não assim tão poucos milhões. Depois uma decisão de "provisóriamente" suspender as emissões de rádio em onda curta (estas emissões são emitidas por satélite para pequenos rádios a pilhas que durante o dia são ligados e que chegam aos 5 cantos do mundo). E depois oiço um responsável de um grupo televisivo dizer que estão com problemas e encontrar a norte frequências livres para a emissão da RTP Africa. Sou motorista de um camião,uso diariamente a RDP internacional para me manter informado, ciente da situação do País, de certa forma para me sentir mais perto e ligado a Portugal. Como eu muitos outros motoristas Tir, tripulações Portuguesas a bordo de navios de carga ou de lazer, homens que trabalham no campo, oficinas, operam máquinas, vivem longe de cá e que tem na onda curta o seu pequeno cordão umbilical diário. Ouvidas as explicações da decisão da provisoriedade da coisa que neste caso toda a gente sabe que é algo definitivo, é explicado que o emissor gasta luz e a politica de cortes diz que o melhor é desliga-lo para poupar. Ora fodasse, que Portugueses são estes? Que gajos estão no poder que nem olham para quem apenas tem isso para estar com Portugal? "Ai e tal porque de hje em dia há net e outros meios onde ver canais portugueses" - dizem eles que estão lá para apresentarem lucros, apenas isso. Adoro a ideia de viver num País que trata bem cidadões estrangeiros e os acolhe, mas não num Portugal, que pensava ter ajudado a crescer, retirasse aos Portugueses no exterior a comunicação. Como posso estar se por um lado oiço a manifestação de tristeza de todo um universo Português (e não só) por a partir de um dia breve não poder dar uso ao rádio por onde diariamente nos saía Portugal em palavras e em musica? Hoje calam o emissor porque pensam que todos os Portugeses no exterior possam trabalhar com a net por perto. Como cá em Portugal se trabalha com a RFM ou a TSF ligada na sala de escritórios (acho muito bem) há gente que como eu não pode ou de certa forma não dá jeito ligar a net ou a parabólica para ouvir enquanto conduzo a emissão da RDPi. O mais importante é a RTP Africa aqui a norte...os portugueses que se fodam. E eu ajudei a por estes gajos lá...ou de certa forma contribuí para a eleição de um homem servidor dos grandes interesses económicos para liderar este país que vai asfixiar Portugueses e os irá privar do seu país radiofónico. Estou triste por tanta coisa no meu país que me apetece é ser avulso.
Mas não...acredito que haja ainda quem governe para bem de todos e não só para o bem de alguns. Estou disposto ainda a esperar que apareça malta que descubra que as greves não resolvem nada. Enoja-me a greve de certos sectores cuja paragem afectam mesmo a vida de muitos e muitos Portugueses a quem a vida não corre de modo fácil. Custa-me ver um maquinista da CP dizer que o serviço dele por vezes impõe dormida fora de casa, o que o priva da familia e tal e que fica numa pensão em Lisboa para voltar no dia seguinte e se queixa porque acha que os 2100 euros não pagam essa ausência. Parvo por ver que há pessoas que param por causa disso, deixando desesperadas pessoas nas estações aflitas por mais uma vez poderem dar ao patrão motivo para as despedir...gera-se um clima psicológico terrivel, de assombro. Não é por parar o camião e atirar pedras aos outros que mostro a importancia da minha função enquanto motorista. Tenho defeitos, e muitos, obviamente, mas tirar folga por perrice ou por sugestão do sindicato não é comigo. Nunca alinhei em greves nem em nada quis tirar proveito delas. Achei salutar uma altura e que estando em situação pré-depressiva recebi ordens para me deixar estar em casa sem sair á rua com o camião porque havia piquetes e a violência usada por colegas da mesma profissão era elevada. Fiquei uns dias fechado, sem trabahar é certo, mas porque não pude ir. Nunca sonhei sindicalizar-me seja em que fôr...nunca passou por mim dar um punhado de euros para uma organização que apenas aparece a fomentar greves disto e daquilo. A malta sabe que a malta parando bloqueia estradas, escasseiam produtos e tal...mas para quê usar da nossa posição para privar os outros? Há malta que ganha bem menos e que dorme 15 dias fora de casa. Malta que suspira por chegar a casa para estar com a familia enquanto o homem se calhar suspira pela noite em que dorme fora de casa. Calma...primeiro dar erva á vaca e depois esperar a mama.Mas a vaca é de todos, atençao.
Por vezes penso e falo com os meus amigos no que nos trouxe aqui. Adoro quando em torno de um café a conversa é falada por linguagem de quem conhecemos, linguagem que conhecemos e de coisas que desconhecemos...mas a minha opinião não muda, apesar de aceitar a opinião dos meus amigos, mas penso que se fez o 25 de abril a horas certas. Acho que o 25 de Abril foi um êxito militar e um erro politico enorme, na medida que não soubemos o que fazer depois. Hoje vivemos essa consequência ainda.
Antes, trafulhar a conta ou a fuga ao fico era um acto heroico - "eh pah, fulano é que é esperto, está ali a foder o governo com uma pinta do caralho". Antes era assim, tinha de ser assim...não se tinha muito e o que se tinha era controlado pela ditadura. De um momento para o outro já havia dinheiro para tudo e se não havia pedia-se ao Totta e ele dava. As injecções de fundos da CEE eram diários e a malta ia-se desenrascando: "Eh pá, fulano é que é fino, pediu apoio lá á cee para plantar kiwis e tal e quando veio a massa pagou a casa, comprou jipe e foi ao Brasil de férias". Hoje pagamos isso e muito mais...pagamos sobretudo pela dor moral das escolhas politicas e da solidariedade ao amigo que está no desemprego mas que trabalha ali umas horas por fora...até aqui falhamos por mantermos ainda a filosofia da ditadura em que o importante era desenrascar-se perante uma ditadura. Hoje, somos uma especie de nação em que somos contra muita coisa em geral mas no fundo não temos nada contra em particular. Também é verdade que nunca se teve muito bom por onde escolher mas o que é certo é que há uns que nos lixam bem mais que outros. Porque Portugal para eles não é um País, é apenas um problema, um exercicio,para outros o tacho, para outros politicos que elegemos o problema é para eles não haver problema algum. Nenhum politico mesmo que esteja no poder, que diga BASTA a esta merda da RDP internacional (apenas um exemplo por ser cliente deste meio de difusão do estado para o qual contribuo). Acreditava que o Jorge Lacão fosse um gajo mais nobre nas opiniões. Apreciei quando ele disse que o País tinha deputados a mais, mas depois não defende os Portugueses que ficam a menos... Ouço o Luis Amado a ter atitudes politicas correctas mesmo que as mesmas sejam diferentes do que o Partido estipula, mas depois também não diz que não é o emissor que vai alterar uma virgula do PIB...não vem dizer que os politicos, os tais que discutem se eu devo comer arroz e atum ou então ter dinheiro para comer um bife diário, se recusam viajar em voos mais baratos, ou viajar em carros tão caros assim. Não falam dos privilegios dos quais não abdicam...E fico triste. Trsite por perceber que um destes dias a Torre de Belem sera um Continemte ou que os Jerónimos um Pingo Doce. Triste por perceber que afinal tudo se vende e tudo se compra em Portugal. Triste por perceber que um destes dias vou ter de perguntar aos mercados se posso ir dar uma queca solidária algures em Portugal. Fomos vendidos e o FMI já tem lucros que cheguem...imaginem um abutre com uma placa a dizer FMI ao peito. O resto já sabem...o abtre espera a morte por agonia da vitima e depois come-a, ainda fresquinha...e come-a quando já está em decomposição. São turistas que nos levam Portugal aos poucos. Quem os meteu cá? Não sabemos...sabemos quem governou até aqui e sabemos quem não evitou o convite a tão ricos forasteiros.
As pessoas não tem tempo para nada hoje. Talvez nem tenham tempo a ler estes desvarios de gajo que não tem mais nada que fazer no 25 de Abril. Qualquer dia arranjam forma de se tomar café aqui e lá se perde o bom hábito de ir ao café, rodear uma mesa de amigos, e falar-se de coisas de todos.
Gostava que o 25 de Abril fosse mais festejado e menos politico. Gostava de ver as cerimónias de Abril mas não tenho roupa chique para lá ir...é vedado ao povo. Os vivas são apenas votem em nós. Calo a minha revolta, enrolo-a em mortalhas que queimo em incenso.
Alegrias? Algumas alegrias que felizmente não são (ainda) controlados pelo Governo. O meu FCP tem-me dado alegrias muitas e o Jesus tem estado á altura do que se espera de um treinador do clube rivalnem sei mesmo se com melhor desempenho que o enorme Artur Jorge que desfez a equipa toda. Ontem foi a Páscoa e então pude finalmente como Portista agradecer ao Jesus dando-lhe um beijo na Cruz e beber, claro, um bom Porto.