segunda-feira, 22 de março de 2010

Olhar transbordante


sr fulano de tal...

Trazia sem saber em mim a recordação clandestina viajante dos teus olhos. Tinha-a guardado em mim sem sequer ter percebido isso. Pensei nunca mais te encontrar, nunca mais te ouvir, nunca mais me sentir sob a mirada discreta e fugaz desse teu olhar...e o mundo nunca parou e deu voltas e mais voltas sobre si mesmo e sobre mim e hoje trago o teu olhar a transbordar coração fora. Tantos dias se passaram...
Há três anos não te vejo mas acredito que as meninas dos teus olhos ainda dançam como bailarinas numa imensidao branca e imaculada mas que julguei ser sempre gelo. Os teus olhos grandes como janelas por onde entram os raios de sol que te iluminam o interior e só hoje te consigo compreender, perceber que caminhos cruzaste e que galerias conservas dentro de ti, menina do mar com perfume de acácias em flôr. Fui inebriado pelo perfume que se soltou com o eu olhar guardado em mim, clandestino olhar, e o silêncio de uma noite foi apenas musica e o sono foi um sonho. Talvez tragas em ti o perfume dos campos em flôr e dos montes que atravessas a cada manhã. Aposto que no regresso ainda colhes pequenas gotas de sol que ainda resistem quando voltas a casa e te mantêm iluminada por dentro.
Guardei um olhar, guardei um sorriso e guardei também a vontade de um abraço por desses olhos ter visto lagrimas caírem num fim de tarde de Inverno em que bloqueada apenas choravas...tudo carga clandestina em mim mas agora autorizada. Na vida como na estrada...sempre na escolha do melhor rumo. Cuida desse olhar que um dia verei a rir...e as tuas meninas, soltas e bailarinas, desfilarão de novo no branco imaculado de uns olhos que me são unicos enquanto eu, bloqueado por eles, tentarei fazer de conta que estou atento ao que vieres a dizer.

domingo, 7 de março de 2010

O meu rádio de ondas curtas


sr fulano de tal...

Vai diminuindo o coro dos aquecimentos de parque, as noites vão clareando mais cedo...para trás parece ficar a dependência do aquecimento para passar a sr apenas opção. Dependo do local onde se durma. Já dormi esta semana duas noitas sem ter que recorrer ao mecanismo mágico que nos aquece pelo menos o corpo. Os dias tornam-se maiores.
Muda agora a rotina de novo...acordar pelas 4 da manhã e andar até o sol romper...aí cresce em mim uma firme e incontornável vontade de parar a cabine virada para nascente e esticar-me nessa hora. Uma pausa de 45 min que passo a dormir, geralmente, porque enquanto a intensidade de luz vai crescendo cada vez mais, os olhos, vindos do escuro vão-se adaptando exigindo pois um certo esforço e daí sentir aquela moleza que sinto ao romper da luz. Aquela pausa ou corte, como se siz na giria, deixa-me tão bem disposto.
Há uma nova rotina porém que agora me ocupa ao longo de toda a manhã...o Pai Natal trouxe-me um rádio de ondas curtas e assim já posso ouvir as emissões matinais e vespertinas da rádio Antena 1 Internacional. Tem uns horários malucos, as frequências variam muito mas lá vão ficando já mais ou menos sabidas a olho e com mais ou menos qualidade de sinal tento-me manter informado e actualizado daquilo que diz respeito á musica Portuguesa. Raro o momento musical que não seja em Português.
Á noite, mais ou menos a partir das 20 horas, o meu pequeno equipamento já não apanha nada em Português a não ser uma emissão russa que transmite noticias da Russia em Português. Mas é nessa hora que parte considerável das comunicações cessam, há uma maior facilidade em ouvir em am as emissões do RCP ou seja a Rádio Clube Português. Ouve-se o programa diário sobre futebol dirigido pelo Fernando Correia que se inicia ás 19 e termina por volta das 20 e 30. Se por um lado até que agradável ouvir falar de futebol de quem dele percebe, já por outras se torna lamentável ouvir o programa porque tem linha aberta á opinião do ouvinte e a tónica geral é dizer-se o que se quer e apetece sobre os Portistas. Uma sensação nitida da escolha das chamadas a ir para o ar surpreende-me. Em cada 10 que achincalham Portistas como adeptos e como pessoas, lá vem um ou outro lembrar que é de futebol que se trata...ou de outro qualquer tema desportivo mas sempre com um convidado. Enervo-me e desligo e faço-o porque depois do programa a grelha é quase toda ela preenchida de musicais, não que eu não goste de musicais mas os noticiários escasseiam e a musica e maioritariamente em lingua estrangeira. Tipo, tenta-se a emissão am da Antena 1 mas o sinal é tão fraquinho que ponho na rádio nacional Espanhola e assim vou estando mais ou menos informado do que se passa.
E cada dia é diferente mas todos os rituais iguais...e quando sigo aquela rotina sinto a falta do gesto que não fiz. Acordar com o despertador e programa-lo para 15 min mais tarde e tentar voltar ao sonho que já nem lembro o que era, esticar o braço e dar á chave, aquecer um pouco o motor, carregar o ar, descarregar um pouco o ar para a humidade nele diluída não crie qualquer especie de particula solida na tubagem do ar dos travões...levantar, meter qualquer coisa á boca e ir comendo qualquer coisa enquanto o corpo vai despertando também. Espreito que tempo tenho de descanso contínuo, pôr música e vestir e arrumar a cama e cabine a cantar...Ao abrir as cortinas estou a apresentar-me ao mundo, a apresentar-me a mais uma etapa. A água fria desperta o mais adormecido dos rostos. Trata-se da higiene pessoal. Arde um cigarro sempre que tomo o café que sabe tão bem ainda com a noite cerrada antes de arrancar. Ultimos preparativos e lá sigo...já sem cantar mas agora atento ao que aconteceu enquanto adormeci. E há uma enormidade de coisas que acontecem enquanto durmo...
E espero agora todas as manhãs que se inicie a emissão da Antena 1, a onda é curta, é certo, mas chega onde as outras não chegam...