sábado, 16 de maio de 2015

Defeitos: Sei os da Xica





Sr fulano de tal...
   Há muito tempo que não passo aqui...nem sequer limpar o pó do tempo que entretanto passou. Talvez agora dê por mim com mais entusiasmado com a banda e com a tuba. Mas hoje, de pano na mão, vou sacudir e limpar o pó deste lugar deserto, deste meu gigabyte que fica para aí pendurado na rede global.
   Talvez hoje aproveite para me despedir da minha Xica da forma que ela merece, depois de alguns episódios em que foi protagonista depois da Xaleca. Foram três anos muito bons, voltamos sempre. Sempre.
   Por vezes dou por mim em pensar se não serei um pouco meio-ordenado das ideias. Que raio de gajo se coloca num palco de letras ao lado da protagonista que o carrega? - racionalmente sei, que é apenas mais uma ferramenta de trabalho, parida em grande ninhada de umas maquinas robots que "vomitam" camiões. Mas um camião não pode ser apenas uma máquina quando alberga tudo o que somos. Aquilo que fica de dentro quando as cortinas se fecham. Há algo mais ali...ouvimos musica e deitados, acordados pensamos nas coisas...quase sempre longe delas. A Xica...essa "coisa" que fazia parelha comigo, que me calçava todos os caminhos. A Xica, o que fica depois do motor parar, as conversas com ela quando precisávamos de todos os cavalitos a subir a Fraga ou a Guarda.
   -Vamos Xica...vamos devagar, vamos subir tudo em 8a. Se me "foges" do pé e te alivias para uma 9ª ou te adormeces para uma 7ª, deixo-te o rádio ligado em AM na rádio Espanhola. Ficas a "resmungar" enquanto adormeço. Daí a uma hora calas-te
   Claro que ambos temos os nossos defeitos e as nossas guerras. Andamos do avesso, como não te viraste de rodas ao ar, virei eu pernas acima...Luxemburgo, para tocar com a banda de Rio de Moinhos que estava lá nesse fim-de-semana a convite da nossa comunidade nesse País.


                                               
 


    Andei 3 anos com cds no camião e quase nunca os ouvi. Só quando lhe apetecia é que o leitor de cd me fazia o favor de o reproduzir. Quando tinha a "sorte" de o cd entrar, mantinha-o ali, semanas e semanas sem o tirar. Não tinha paciência para o combate com o leitor de cds de forma que era um ponto negro (supostamente o de uma das mamas da Xica) e estava ali, intocável. Viciou-me na rádio...ouvir o que me dão e não o que me apetece. Só podia ouvir os meus cds no pc, nas noites sem sono ou como oásis num deserto de horas vazias numa paragem numa qualquer area de serviço além-fronteiras. Olha que me castigavas, sabias?
   A outra das guerras (ou o outro ponto negro da concavidade do soutien) que mais me irritava, eram as luzes interiores sobre o tablier e a luz de leitura. Nunca ligavam quando eu queria. Comprei uma lâmpada de ligar ao isqueiro.
   -Fica lá com os teus teimosos botões e molas dos contactos e as lâmpadas...


   De resto foi cúmplice, foi casa, abrigo, cabana, palco, auditório. Foi ferramenta que valorizou o meu trabalho. Foi também viúva, sentiu a ultima das suas entranhas despegar-se de três anos a três, no momento em que desci dela com o meu ultimo pertence pessoal depois de a assear o lugar despido de referências que me acompanham, sem guitarra nem os cachecol do Rio de Moinhos.
   Já a vi passar noutras mãos. Piscou-me o olho ao cruzar como quem saúda alguém que será sempre especial como a Xica, aquilo que invento e desenho, o foi e é. Embora com tintas que escrevem a forma verbal do passado.
   Boa sorte Xica :)  Luz no teu caminho

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