Há dias em que um abraço dado, abraço apertado ao fim da jornada de trabalho, valeria tudo...Um simples abraço tão largo quanto as pontas dos dedos do gesto obsceno pudessem afastar-se uma da outra, um abraço tão apertado ao ponto de não nos sufocar, tão quente que nos aquecesse o que o fogo não aquece. Sentir as nossas mãos a abraçar um corpo amigo que nos abraça com um bem-querer, num festejo, quando marcámos o golo, quando falhámos o "penaltie", sentir que há ali alguém que sabe o que mais se precisa nesse momento...um abraço!
Fim-de-semana..24 horas no mínimo de paragem da máquina e do homem. Horas em branco que tenho que preencher e nunca as desejo a negro, mas fico aqui, assim, sentado numa mesa da area de serviço a escrever. A tentar escrever a negro o fundo branco do bloco de notas e se aqui pudesse fumar enquanto escrevo, apenas ver o rumo do fumo do fumo, vê-lo sair porta fora e eu segui-lo...Não, tudo surge em branco.
Cor, preciso de uma cor, algo para encobrir este branco que não sei ocupar. Insisto em não reler...já não me surpreenderá e parecer-me-á escrita de porta de wc. Deixo só aqui as minhas mãos, não sei onde para a minha cabeça hoje. Não estou mal, antes pelo contrário, mas não estou aqui com a minha cabeça. Ou talvez esteja em branco. Um abraço...não há.
- Pereira, eh pá, arranja-me aí um cafezinho e já agora um "fundinho" de bagaço - O dia cinzento e a circunstância dizem-me que aquele cafezinho e aquele golinho de bagaço me darão algum conforto de certa forma que compense a falta de um abraço e do cigarro. Mas um abraço é um abraço, e não bagaço que o substitua nem cafezinho em tarde cinzenta. Não...um abraço pode conter nele toda a força do mundo, dois corpos e quatro braços...
Fundido, abraço fundido. Abraço em branco que posso colorir, como feno que desponta em pradaria. Doura-me o vazio vazio imenso, abraça-me com força, somente a necessária para não me levares ao inferno. Socorro...apenas um abraço.
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