quarta-feira, 13 de julho de 2011

Um domingo de gente...


O largo desde minha casa, hoje ao amanhecer...o sol, os coretos e as sombras.


sr fulano de tal...

Há uma luz...uma pequena luz que me ilumina. Apesar do homem que conduz um camião que há em mim, há o puto que não envelhece lá dentro porque se recusa a acreditar que um homem perca o sentido de se divertir com o anoitecer da idade.
Escrevo-vos desde uma montra do que outrora foi a mercearia do meu avô, o meu lider espiritual.Aprend aqui com ele a escrever, a ler, a gostar de musica mas sobretudo de crescer aqui com ele. Tenho grandes recordações dos dias de magem de cafés e cevadas, o cheiro a café todo o dia...arrepio quando entro num lugar onde cheira a café, é como se o aroma me rasgasse os pulmões e me chegasse ao coração. E recordo essa minha infância aqui. Recordo-a muitas horas do dia, aqui, nesta montra, vitrina transparente,de uma posterior taberna, em que me sento e me deleito com o sol a inundar de ouro o largo granitico onde vivo e em que amanheço.
Desci as escadas a tempo de ver o sol se atirar ás paredes, os coretos desertos hoje, parecem ainda bailar ao som das vibrações impostas no último domingo. As árvores do jardim respiram hoje mais silêncio e as pedras da calçada podem enfim adormecer. O fim de festa é apenas o lançamento para a que virá depois. Puxei de um cigarro e pedi um café...não há momentos assim tão gratificantes para mim do que tomar um café em total sintonia com o que me rodeia. Observava o largo que dormia depois da agitaçao de domingo passado, onde abarrotou de gente para ouvirem a musica das bandas. Uma enorme mutidão que se juntou á cor e se rendeu á noite de festa na minha terra. Vi a multidao desde um coreto, apesar de ter um trabalho que não me garante qualquer tipo de rotina, esforço-me por estar presente no maior numero de ensaios possivel e serviços, e o Verão é a parte mais forte da época. Toco tuba, por vezes levo-a comigo nas viagens, para estudar e para que possa assim acompanhar a progressão da banda da minha terra no nivel qualitativo.
Não é fácil, mas não me vejo sem a banda, sem a musica, mas também não me vejo prejudicar o meu trabalho ou emprego por causa de uma actividade extra.Não seria possivel tocar em quase todos os serviços senão houvesse uma magnifica coordenação de esforços da parte da cadeia hierarquica que está sobre mim no meu trabalho. E faço os meus sacrificios também mas todos eles são recompensados nestas horas em que há praças cheias de gente atentas aos coretos, cada vez mais juventude a aproximar-se das filarmónicas e terminar actuações depois da uma da manhã ao som de aplausos e de "mais uma, mais uma" num coro geral que acaba por fazer valer a pena o sacrificio.

Caiu a tarde, esvai-se o azul por entre o dourado do Carvalhal.


Hoje apenas observo desta vitrina...e penso o quão seria bom puder dividir-me em 2 e descer, descontraído, e juntar-me no largo inundado de olhares curiosos e atentos e de ouvido em cada pormenor a cada obra. Não há como o norte no que toca a bandas de musica e á importância que têm nas grandes festas e romarias do norte. As noitadas com duas boas bandas em despique, tocando alternadamente como se de um desafio se tratasse um ambiente de toada e resposta. Se uma toca 1812 a outra toca Juizo Final, se a outra toca Guilherme Tell a outra replica com Marcha Eslava e quem ganha é o publico.

http://www.youtube.com/watch?v=vCRhCSB6AB0&feature=player_embedded



Quando as bandas terminam as pessoas procuram um lugar mais seguro para estar porque vem a vaca de fogo mandar toda a gente embora para casa. E é isto que realmente vale a pena na vida de um homem que é motorista...viver também um pouco de vida de gente normal.
Partilho aqui um pouco do meu lugar, do meu domingo e um pouco do que é o centro onde vivo. E é por gostar tanto que escrevo e partilho.

http://www.youtube.com/watch?v=qX3xb99OB0g

6 comentários:

Anónimo disse...

Que rico domingo! Venham mais…

És um kriiido Joca, classifico este teu gesto como o de uma grande generosidade ao partilhares com o mundo este domingo que tanto te marcou.
São esses teus valores que eu aprecio em ti. Os teus avós fizeram um excelente trabalho!
As tradições são o que de melhor tem o nosso país, á que preserva-las não as deixar cair no esquecimento, temos que lhes dar continuidade… alegra-me saber que os jovens estão atentos e que sentes que se aproximam.
Fico também contente por te saber mais alegre, mais de bem com a vida.
Guarda esse puto que trazes dentro de ti, e deixa-o divertir-se.
O verão tem destas coisas, o verão também é isto :)
Tenho saudades dos verões que passei na terra dos meus pais, onde também havia festas e romarias, e lembro-me que no dia da festa, vinha mais cedo para a rua, para ir ver os meninos da banda a tocarem, penso que nesse ponto deve estar tudo igual não? Era uma animação…
Resta-me desejar que essa luz que te ilumina, te aqueça também o coração e te acompanhe em mais esta viagem.

Um beijo meu, com carinho
Ana

JP disse...

Pois por esta altura festas não faltam por todo lado. Contudo quem as organiza diz que o pessoal há muito, mas consomem pouco! É a crise..

Um abraço

AmSilva® disse...

A idade pode passar, mas estas "pequenas" festas tradicionais, de preferência a da nossa terra faz-nos sempre recordar como fomos há anos passados, como éramos e sonhávamos vir a ser...
Este texto fez-me recordar que dei 14 anos da minha vida a mostrar o folclore da minha terra por Portugal e além fronteiras, mas nunca tive paciência pra assistir a outro grupo etnográfico...
nunca percebi mas também nem quero perceber o porquê.
Boas viagens!!

Anónimo disse...

Gosto de seguir o teu blog, escreves bem, mas tenho mais curiosidade das tuas aventuras como motorista.

Boas viagens

Rui T.

Joni disse...

Boas amigo, espero que este email te encontre do boa saúde e disposição para beber umas minis a reboque do calor que faz, pelo menos aqui pelo sul.

Mais uma vez surpreendente o teu post, esta forma de escrever é única.

Eu compreendo os teus sentimentos e a saudade, tal como tu o meu avô foi umas das pessoas que mais me marcaram, só tenho pena de na altura não me ter agarrado a aprender a profissão dele: ferreiro e serralheiro.

Grande Abraço
Joni

Anónimo disse...

Li, reli e...percebi. Tambem eu um dia, ainda menino vivi intensamente tudo o que me era proporcionado, as viagens com o meu pai no camião, as aulas de música na Banda, os momentos junto da minha avó, depois...cresci, estudei superiormente música e aperfeiçoei, fui músico profissional (Banda Militar e Orquestra Sinfónica), concluí tb Direito, até que um dia...fui motorista TIR, com um frigo "às costas" UK e Holanda a correr mto, mas feliz, saudade !!! Valores mais altos se levantaram, a minha avó partiu, a música acabou, ficou o ensino e a advocacia, mas as saudades...essas continuam e cada dia que passa, aumentam, da N620 cheia de emigrantes num qq dia de quente de Agosto (q agora é uma autovia qq), do Terminal TIR de V. Formoso em que aguardavamos o veterinário p o desp. fitossanitário, saudades das viagens com o meu pai, das idas ao mercado com a minha querida avó, saudades da vida, das coisas boas q a vida me proporcionou...em breve encontrar-nos-emos num qq centro routier, puxará datuba, eu do trompete e tocaremos um dueto, cedido pelo meu grande ex colega e amigo, o Harry Potter da Tuba, p Sérgio Carolino.
Abraço
Paulo Barbosa