sábado, 15 de janeiro de 2011

O porto que abandonei


Sra fulana de tal...

Chega-te a mim.
Vem de mansinho e descobre-me aqui, agachado e escondido de um mundo que procuro sem que nele entre de novo.Chega-te a mim ...abraça-me e não digas nada. Fica só com os teus braços a apertarem-me ligeiramente o corpo e não digas nada. Prefiro esse abraço que preciso em silêncio para que possas ter o teu corpo ali e a tua mente num qualquer outro lado. Sabes...já não me sei encontrar, acho que estes anos sozinho me fizeram perder o amor que sabia fazer crescer e tratar...hoje já não sei sentir se não o frio da ausência do que durante tanto tempo senti.
Vem, anda até aqui junto a mim, podes vir, ainda sei ser amigo, ainda sei pensar e conversar por cabeça própria...Anda, não demonstres que sentes vergonha pelas tuas amigas se rirem por teres um rapaz como eu como amigo.
Tomas café? Anda, o dia está bom e podemos ir a um café e falar, poderei ver se pôes açucar ou adoçante ou se simplesmente não colocas nada, poderei para que lado mexes o café e ainda com que mão ergues a chavena ao rosto. Podes vir até mim, não sou um monstro...nem o homem das cavernas por sobreviver aqui dentro e além disso preciso de falar dos meus demónios e fantasmas, do que não sou nem quero ser.
Preciso de um abraço...preciso ir de braços abertos a ti, sentir o calor do teu abraço, a força dele como quem quer bem...é como um pouco de vida mais. Preciso abraçar-te, depois olhar-te e sorrir-te e dizer-te então: Olá.
Quem me dera poder voltar atrás e recomeçar tantas coisas de novo...Estes dias cinzentos poêm-me assim. Pairam em mim retratos de que era para ser e nunca foi, voam e desfilam diante mim para me lembrar a cada instante onde me fui ausentando, prendendo em muralhas herméticas que fui fechando, de maneira a não deixar alguem entrar, a impedir-me de deixar sair. E as noites e a lua foram-me acompanhando, em tudo via a beleza de um olhar teu e sorriso teu. Habituava-me ás ausências mas não me habituava a sentir-me sozinho, habituava-me ao silêncio mas não ao sentir-me ninguém...
Um dia esta estrutura não sentiu o teu impacto forte, de noite usava óculos de sol, andava de farois acesos de dia. Jantava ás 10 da manhã e lanchava á meia-noite. Tinha perdido o sentido do mundo que me rodeia. Tinha caido no mais profundo dos abismos que me consumiam. E a força de me libertar causou um rombo enorme e por lá em pánico fugi...e fui voltando a mim aos poucos. A cada visita erguia uma pedra e outra, algo ameaçava ruir, figio de novo de mim...voltava de novo numa teimosia movida pelá ânsia de tudo reconstruir, de tudo remendar...E eis que voltam as barreiras, voltam as horas de não me querer mostrar a ninguém e a estar num mundo só meu...voltamos ao mesmo e voltamos a ser estranhos. E as grinaldas de Outono quando o mundo é amarelo e as primeiras fohas caiem de gastas de verde de verão? Perderam-se...dizemos que sendo petalas caidas de gastas já não foram sonoras mas antes um pequeno e surdo toque de vento que as levou...nem um tlim nem um tlam...grinaldas sonoras que foram e não voltam.
Desnascer..ás vezes é querer desnascer e voltar ao lugar de onde não devera ter sido expelido. Dividi-me em dois...e uma das partes entra no braço de ferro e voltamos a ser de novo estranhos...Este espirito aventureiro de mochila e viola ás costas, esta coisa de trabalhar e poder disfrutar de cada vez mais preciosos recantos de uma Europa que agora se vai abrindo diante de mim, m dia vai cessas e eu vou reparar ai que não tenho nada na mão...nem na outra. Terei somente a consolação de ter querido um mundo melhor, ir sem destino e voltar a casa cheio de coisas lindas de se descrever, de sentir...mas aí serei um homem só. Sem pernas para segurar o peso de uma viola ás costas...sem amor por quem essa viola toque...
Preciso de um abraço teu, em silêncio, mas sentir os teus braços em volta de mim...Oh, mas como preciso de lembrar o porto que deixei, o cais de amor e dádida de onde me desatraquei...por ser parte de mim palmilhar o mundo. Desabituei-me do corpo, do abraço...ganhei a força dos sentidos, do toque das palavras e das sensações que se me elevam e foi por aí que começo de novo a verter de novo, não com rombo, mas seguramente com frestas que não foram seladas. Preciso de um abraço...isso bastará por si só, aproximar-me-á desse porto de abrigo, do ombro amigo de um corpo que não traga palavras mas sim apenas um par de braços abertos. Isso basta-me. As palavras voltarão a dizer o que querem dizer e não tras coisas.
Chegas até mim? Sentas-te aqui ao meu lado a fazer companhia a esta mesa de café?

3 comentários:

Anónimo disse...

lindooOO
sabes cativar quando queres

Anónimo disse...

tou pasmada...belo
a tua vida num conjunto de letras bem estruturado...amei
doce como tu, sem chocolate

Anónimo disse...

"Ah se todos os abraços fossem afáveis..."
Um abraço que so deve ser dado se de ambas as partes souberem o significado desse abraço.