sr fulano de tal...
O ar denso que me desperta deste sonho faz-me acordar para a realidade. Mas esta realidade não é aquela que eu queria para mim, para a nossa história em conjunto ou por vias separadas, porque o destino pode pregar-nos tantas partidas. E agora pequena Xaleca, voltamos a ser só os dois. Bem sei que tudo o que digo e penso não parece de todo com o sentido mais certo, mas nunca me defini como uma mente brilhante e segura, tantas vezes encho de dúvidas o meu pequeno refúgio. Espero que um dia volte a encontrar esse ponto de fuga para o outro universo que é tão diferente dos meus passos, da minha rota que às vezes mais parece de colisão total e irreparável.
Não gosto de divagar só por divagar, preciso dos motivos certos ou que o estado das coisas seja de destruição eminente e de absurdos incompreensíveis. Por tudo parecer estar sempre ao contrário, o mundo, os pássaros desalinhados, as tuas palavras, por tudo fico agoniado e com vontade de agarrar o mundo com as minhas mãos e fazer as coisas acontecerem.Ou não acontecerem porque são erradas. Ou parar o tempo para descansarmos os dois deste desatino que nos troca as voltas todos os dias, fazendo-nos parecer máquinas a pilhas ou com bateria eterna mas frágil. Este rodopio que alguém impensadamente chamou de vida baralha-me os sentidos e a imaginação, já não sei o que fazer para ser único, toda a gente tem um clone ou uma fotocópia que processa os mesmos sentimentos supostamente autênticos. A única autenticidade na minha vida é a procura de uma essência só minha que todos querem roubar, eu quero dar-ta só a ti, tu vês-me como ninguém consegue ver, e eu sou assim porque sou para ti. Mas é difícil encontrar um sítio que ainda ninguém tenha pisado, ou uma frase que ninguém se lembrou de dizer.
Sem sentir o corpo dormente levanto-me do meu estado hipnótico e olho em volta. Mas só vejo papéis trocados, e só oiço discursos estranhos repetido até à exaustão, sinto-me confuso e perdido nas palavras que insistem em entrar pelos meus ouvidos, mesmo que ponha as mãos à frente continuo a ver os teus lábios a apertarem-me contra a parede. Parece que voltei novamente àquela fase de contenção e limites, pensei que já os tinha ultrapassado e podia encontrar livremente experiências diferentes todos os dias, sem me ver ser destruído com medos ou inquietações. O tempo parece mudar lá fora, mas não sei se está a chover ou se já é verão, perdi a noção até da temperatura do meu corpo, será isto a realidade ou voltei a mergulhar num sonho que não entendo? sinceramente já não quero saber. Deixa-me só ficar a olhar para ti no que guardei em mim, não digas nada, estragas o silêncio e ele é tão belo, deixa-me ser eu a dizer as últimas palavras. Deixa-me assim, está bem?
Afinal faz frio lá fora. O ar denso abafa-me um pouco os sentidos, por isso prefiro sair. Gostava que fosses comigo para outro lado mas não tenho coragem de te pedir mais nada hoje. Voltamos à realidade de prazos curtos e de clones dispersos por todo o lado, o negócio das pilhas deve dar bom resultado nos dias que correm. Talvez precise de trocar as minhas, talvez precise de um corpo novo. Talvez precise de algo mais. Mas o destino não muda nunca! Nem sequer os dias que abrangem os homens temporáriamente sós.